Autora: Anna Erelle; trad. Dorothée Bruchard e Eduardo Brandão.
Editora: Paralela
Há pelo menos dois anos o mundo assiste atônito aos combates na fronteira entre a Síria e o Iraque levados a cabo pelo grupo extremista Isis, também conhecido pelo acrônimo árabe Daesh, ou simplesmente EI – Estado Islâmico. Reivindicando a implantação de um Estado religioso na região conhecida historicamente como Levante, a milícia engrossa suas fileiras com jovens vindos de diferentes países da Europa, a quem recebe sob a promessa de uma vida plena para lançá-los ao inferno. Em nome da religião interpretada à sua maneira o grupo de combatentes assedia, sequestra, oprime, tortura e mata aqueles a quem considera infiéis e impõe as suas leis, a charia, a populações inteiras.
No impressionante relato "Na pele de uma jihadista", de autoria de uma jovem jornalista francesa, o leitor tem a oportunidade de entrar em contato muito próximo com um líder graduado da facção, o francês de origem argelina Abu Bilel, e conhecer elementos não só de sua personalidade – dificuldade para lidar com frustrações, autoritarismo, visão impiedosa de todos os seres humanos –, como também de muitos dos voluntários que deixam terra natal, família e amigos para se juntarem aos milicianos.
A trama contém muitos dos ingredientes da contemporaneidade: jovens que se conhecem pelo Facebook, que descobrem "causas" para abraçar por meio de vídeos no Youtube; que mantêm relacionamentos amorosos pelo Skype, que definem a vida pela internet.
A leitura é fácil, prazerosa, principalmente para os amantes das histórias de suspense. Em pouco mais de três semanas, a jornalista viveu vida dupla, desdobrando-se entre a personagem Mélodie, ingênua jovem francesa recém-convertida ao islã, interessada em partir para a Síria e conhecer a fundo as motivações dos jihadistas que aterrorizam o mundo e a jornalista ousada, que arriscou a própria sanidade em nome de uma investigação.
A história é real, trata-se de matéria realizada para um jornal francês, depois de cuja publicação a vida da autora nunca mais foi a mesma. Em duzentas páginas, o relato vertiginoso confere profundidade às lições sobre Direitos Humanos, e compõe um atordoante relato de nosso tempo.
Para aprofundar a leitura :
A ideia da obra é definir terrorismo a partir da metonímia "11 de setembro", desdobrando-a em seus múltiplos aspectos. Nesse percurso, chama a atenção para o perigo de uma teoria acrítica, em que a simples menção à ideia de Direitos Humanos universais seria panaceia para os males da contemporaneidade. Em dez textos de autorias diferentes, passa pela denúncia do interesse norte-americano em "expor a sua própria vulnerabilidade", visando, dentre outras, à comoção internacional; polemiza o conceito de Direitos Humanos na medida em que é usado para legitimar respostas autoritárias, armamentistas, e que desrespeitam os direitos universais dos presos, como as detenções sem julgamento, a impossibilidade de escolher o próprio advogado, e até mesmo a tortura como método de interrogatório; aponta a ineficácia da disseminação do Direito Penal do Inimigo para o combate ao terrorismo transnacional. Por fim, desenha a ideia de Direitos Humanos não como produto acabado, mas como algo a ser construído em debates e negociações políticas entre as nações, entre os diferentes. |
"É justamente para garantir
Abordando a não violência e o direito internacional dos refugiados, seus fundamentos filosóficos e as organizações internacionais que lhe conferem prática, a obra acaba deitando luzes sobre a preocupante atração que os combatentes do grupo extremista EI – Estado Islâmico vêm exercendo sobre jovens de diferentes países da Europa, tirando-os de suas casas para lutarem nas fronteiras conflagradas da Síria e do Iraque. |
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Ganhadores :
João Carlos Galarani, de São João de Meriti/RJ - "Na Pele de uma Jihadista" (Paralela - 205p.), de Anna Erelle ;
Flávio Corrêa Tibúrcio, advogado em Goiânia/GO - "Direitos Humanos e Não Violência" (Atlas - 2ª edição – 168p.), de Guilherme Assis de Almeida ; e
Carmem Auxiliadora Cota Assunção, da Unimed Inconfidentes, de Mariana/MG - "Direitos Humanos e Terrorismo" (PUC/RS - 156p.), organizada por Rosa Maria Zaia Borges, Augusto Jobim do Amaral e Gustavo Oliveira de Lima Pereira.