Ética e ficção - de Aristóteles a Tolkien
Editora: Campus Elsevier
Autora: Ives Gandra Martins Filho
Páginas: 280
No primeiro capítulo, após breve incursão no conceito de ética e notas sobre diferentes visões a tratá-la – ética clássica, cristã, legalista, utilitarista – há um convite ao leitor para que prove uma maneira mais leve de pensá-la, não como rol de condutas proibidas (ética dos deveres) e sim como meio para uma vida mais equilibrada e consequentemente mais feliz (ética das virtudes). Para o autor, a virtude não é inata, mas pode ser ensinada e deve ser praticada, dia após dia, constantemente.
Valendo-se de trechos da obra Ortodoxia, de autoria do brilhante ensaísta inglês G. K. Chesterton, o autor defende, no segundo capítulo, que a felicidade humana depende da aceitação de nossa condição limitada, tal qual nos contos de fada, em que a "felicidade se apóia sobre uma incompreensível condição". Advoga por uma ética fundada na confiança de que o autor da condição (Deus/a natureza) sabe o que é melhor para nós, seres humanos.
A partir do terceiro capítulo, passa a comentar outros aspectos da condição humana ligados diretamente à ética – a liberdade, a atração pelo poder, a solidariedade, a prudência, a justiça – fazendo remissão sempre a imagens e trechos da obra O Senhor dos Anéis, de autoria de J. R. R. Tolkien, intelectual inglês que ao lado de C. S. Lewis, seu contemporâneo e amigo, fez literatura em cuja temática vislumbram-se claramente os valores cristãos: a luta do bem contra o mal, a sedução do poder, a queda, o sacrifício do herói em benefício da redenção da coletividade.
É inegável que a narrativa literária é recurso que facilita a compreensão de temas abstratos. Assim, se em O Senhor dos Anéis o mal é identificado com o mau uso da liberdade individual, o conhecimento do vilão ("Senhor do Mundo das Trevas") pelos leitores permite a visualização da dimensão coletiva que esse mau uso pode alcançar. Na mesma linha, conhecer o hobbit Frodo proporciona entendimento de princípios cristãos como a exaltação da humildade, da simplicidade.
Ao longo da obra, o autor remete, ainda, a algumas outras obras ficcionais – Harry Potter, Star Wars, Irmãos Karamazov, em passeio que se mostra produtivo.
_______________
Adriano P. Sandini, advogado da Pirelli, de São Paulo/SP
____________
____________
__________________