A História da Mitologia Judaico-Cristã
Editora: Noeses
Autor: Sacha Calmon
Páginas: 681
O autor começa por destacar que Direito e Ética derivam da Religião, e que as três visam à disciplina do comportamento humano. "A religião é a mãe do Direito", "As religiões [também] trabalham para obter comportamentos desejáveis e coibir os indesejáveis", "Tanto o Direito como as religiões trabalham com os modais deônticos que são o proibido, o obrigatório e o permitido".
Exposta essa natureza normativa comum, passa a discorrer sobre o quanto de poder temporal sempre existiu no judaísmo, religião de onde se originou as outras duas grandes crenças monoteístas, o cristianismo e o islamismo, afirmando que a partir de textos históricos percebe-se que "Política, Direito e Religião se interpenetram", e que "nenhum sistema normativo é tão poderoso quanto a Religião".
Em seguida, diversos capítulos destinados a rebater as versões bíblica e do Corão para a criação do Universo e do homem: "Esse Deus pode ser objeto de uma análise crítica, porquanto a ele nos opusemos quando dissentimos do criacionismo em favor da evolução e de uma história humana diferente daquela referida no jardim do Éden". Nesse ponto, o grande mérito da obra é retomar conceitos científicos importantes, como a teoria da evolução, de Darwin, reunindo e alinhavando o discurso científico, tornando-o acessível para um rol ampliado de leitores – vale destacar que boa parte da obra é compilação de trabalhos alheios, transcrições de trechos de livros lidos pelo organizador-autor.
Em apertada síntese, a obra visa a exprimir um ponto de vista pessoal, segundo o qual a religião "é pura ingenuidade numa época de muita ciência." Mas se resenhar é também comentar, lembro que o discurso religioso e o científico são enunciados de perspectivas diferentes, usam linguagens diferentes, mas não se contradizem ou se excluem, necessariamente. São de ordens distintas.
Talvez a questão posta para o estudioso do Direito seja o interessante paralelo que se pode construir entre o dilema da interpretação e aplicação da lei dos homens e da lei de Deus, seja Ele chamado de Alá, Cristo ou Javé. E aí a discussão toma corpo, e a obra serve para nutri-la de dados, pontos de vista. Sim, que direito é argumentação, e como tal, vale a obra.
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Ana Carolina Silva Barbosa, advogada do escritório Homero Costa Advogados, de Belo Horizonte/MG
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