O leitor Naldo Henrique dos Santos envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:
"É correta a expressão sonhar em, como quando se diz: 'Ele sonhou em sair do emprego algum dia'?"
1) Um leitor pergunta se é correta a forma sonhar em, como quando se diz: "Ele sonhou em sair do emprego algum dia".
2) Ora, quando se quer saber que preposição se emprega após um verbo, tecnicamente se diz que o problema diz respeito à regência verbal.
3) E a resposta para uma indagação dessa natureza encontra-se com aqueles autores que se expressaram de forma mais apurada no respeito ao idioma.
4) Para que não precisemos ler uma imensidade de autores apenas para localizar resposta a alguma dúvida que tenhamos nesse campo, alguns gramáticos já fizeram preciosos estudos, de modo que basta consultá-los.
5) Assim, Francisco Fernandes, na acepção de pensar com insistência, de ter idéia fixa, ensina que o verbo sonhar pede a preposição em: I) "Amo-o, desejo-o, nele cuido, nele sonho" (Júlio Castilho); II) "E depois de se deitar e adormecer, sonhava... Em quê? Nas combinações infinitas da matéria eterna" (Alexandre Herculano).
6) Já no sentido de ver em sonhos, recomenda o mesmo autor o emprego da preposição com: I) "E sonhava com a Glória Neves, que lhe pedia morrer às suas mãos zelosas" (Cândido Jucá Filho1). Essa também é a posição de Celso Pedro Luft2.
7) Em posição mais liberal, Domingos Paschoal Cegalla entende que, no sentido de pensar constantemente, de desejar vivamente, devem ser aceitas as duas construções (com e em): I) "O pobre sonha com uma vida melhor"; II) "Sonha em possuir um pedaço de terra"3.
8) Como observação final, anota-se que, quando os estudiosos da língua têm alguma divergência, o melhor é acatar a posição mais ampliativa, de modo que, no caso, fica-se com a posição do autor por último citado.
9) E, de modo prático, em resposta à indagação do leitor, pode-se dizer que é correta a forma sonhar em, como quando se diz: "Ele sonhou em sair do emprego algum dia".
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1 Cf. FERNANDES, Francisco. Dicionário de Verbos e Regimes. 4. ed., 16. reimpressão. Porto Alegre: Editora Globo, 1971, p. 553.
2 Cf. LUFT, Celso Pedro. Dicionário Prático de Regência Verbal. 8. ed. São Paulo: Ática, 1999, p. 488.
3 Cf. CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 380.