Gramatigalhas

Vós de cerimônia

Pronomes de tratamento.

25/3/2009

O leitor Norizonte Caxambu da Rosa envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:

"Olá, Professor, gostaria de tirar uma dúvida. Este site, quando trata dos pronomes de tratamento, aponta um equívoco de Rui Barbosa:'... augustos lábios de vossa Majestade; e, escutando-o com a reverência devida à VOSSA posição...' (grifo meu). Consultando a GLP de Celso Ferreira da Cunha, fiquei na dúvida se não estaria Rui Barbosa utilizando 'vós de cerimônia'. Eis um trecho desta Gramática: 'Vós pode empregar-se com referência a uma só pessoa por polidez, para marcar a distância, o apreço social. Ex: Bem, bem! escusai-me 'vós'. Tendes razão Duque'. (J.Régio). Outro exemplo: 'Pai nosso, que 'estais' no céu...'. Obrigado e até outra oportunidade."

1) Um leitor, ao dar com um erro que lhe apontaram em Rui Barbosa, no emprego de pronome de tratamento, disse haver ficado em dúvida se tal autor não estaria usando o vós de cerimônia.

2) Como primeira premissa, deixam-se de lado questões teóricas e se fixa que um pronome de tratamento como Vossa Majestade, Vossa Senhoria ou Vossa Alteza equivale, na prática, para efeito de concordância verbal, a você (que nada mais é do que uma forma simplificada de outro pronome de tratamento, Vossa Mercê).

3) Por isso, o correto é "Vossa Excelência dirigiu com firmeza os trabalhos da sessão de hoje", porque se diz também "Você dirigiu com firmeza..."

4) Essa substituição prática também vale para a concordância nominal: o correto é "Vossa Excelência dirigiu com firmeza seus funcionários", porque se diz também "Você dirigiu com firmeza seus funcionários".

5) Feitas essas ponderações, conclui-se que contraria os princípios de concordância do pronome de tratamento o seguinte trecho de Rui Barbosa: "... augustos lábios de Vossa Majestade; e, escutando-o com a reverência devida à vossa posição..." Corrija-se: "... augustos lábios de Vossa Majestade; e, escutando-o com a reverência devida à sua posição..."

6) Uma detida análise dos exemplos e das situações, porém, demonstra que as regras de concordância do pronome de tratamento (verbal ou nominal) não se confundem com o que alguns gramáticos chamam de vós de cerimônia, que é o emprego do pronome vós (que é segunda pessoa do plural) com referência a uma só pessoa, e isso por polidez, para marcar a distância ou o apreço social. Exs.:

I) "Bem, bem! Escusai-me vós. Tendes razão, Duque.";

II) "Pai nosso, que estais no céu..."

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.