Gramatigalhas

Cáiser

A palavra cáiser existe em nosso léxico. Confira!

29/10/2008

O leitor Silvio Cordeiro envia a seguinte mensagem:

"Senhores, peço encaminhar ao ilustre Prof. José Maria da Costa. Pergunto qual a razão, se é que existe, do Aurélio grafar 'cáiser' como o nome do imperador da Alemanha, adaptação não encontrada nem no Michaellis, Aulete ou Figueiredo. O sr. Aurélio gosta de neologismos, ou tem alguma base racional? Obrigado."

1) Um leitor indaga qual a razão – se é que existe – para que o Dicionário Aurélio inclua a forma cáiser como nome do imperador da Alemanha, adaptação essa que não encontrou em outros dicionaristas, como Michaellis, Caldas Aulete e Figueiredo. E resume: "o sr. Aurélio gosta de neologismos, ou esse uso tem alguma base racional?"

2) Veja-se, por primeiro, quanto à etimologia, que, entre os romanos, um imperador ou príncipe tinha o título de caesar (pronuncia-se césar); na Rússia, seu equivalente era czar; na Alemanha, Kaiser.

3) Uma consulta ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa mostra que nele se registram os três seguintes vocábulos como pertencentes ao nosso léxico: cáiser, césar e czar. [1]

4) Ora, a Academia Brasileira de Letras, entidade que edita o VOLP, tem, por delegação da lei, a incumbência para listar oficialmente as palavras pertencentes ao nosso idioma, assim como para determinar-lhe a grafia e fixar-lhe a pronúncia.

5) Desse modo, se uma palavra se encontra registrada em tal obra, significa que ela existe oficialmente em nosso idioma e deve ser empregada com a grafia e a pronúncia ali constantes. Em caso contrário, não está autorizado seu emprego nos textos que devam submeter-se à norma culta. Essa é a lei. Qualquer problema adicional há de ficar para discussões teóricas, no plano científico, sem interferência imediata no seu emprego, e isso até que ocorra alguma alteração no próprio VOLP.

6) De modo específico para o caso: existe oficialmente, em nosso léxico, a palavra cáiser, e ela não é invenção nem neologismo de dicionarista algum, mas tem sua grafia determinada pelo órgão legalmente autorizado para fixar a grafia e a pronúncia dos vocábulos em nosso idioma. Em resumo: existe em nosso idioma, e seu emprego está legalmente autorizado.

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[1] - Cf. Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Imprinta, 2004, p. 139, 173 e 230.

 

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.