Gramatigalhas

Remontar

Confira o texto "Remontar"

11/6/2008

O leitor José Celso de Camargo Sampaio, do escritório Demarest e Almeida Advogados, envia-nos a seguinte mensagem:

 

"Atencioso Dr. José Maria (Gramatigalhas): Há poucos dias, discutia-se, no escritório, acerca da construção: 'Esta tradição remonta a 4 mil anos'. Houve quem observasse que deveria ser 'há', por se referir a tempo passado; outros sustentaram que, no caso, cuida-se de preposição 'a', exigida pela regência do verbo remontar. Inclinei-me pela última posição, mas gostaria de ouvir o mestre, alargando as explicações. Com um abraço"

Remontar

1) Indaga-se qual a forma correta:

a) "Esta tradição remonta a quatro mil anos";

b) "Esta tradição remonta há quatro mil anos".

2) O verbo remontar, quando tem o sentido de ir buscar a origem ou a data, pede um objeto indireto que seja começado pela preposição a. Exs.:

a) "As cruzadas remontam à Idade Média" (Cândido de Figueiredo);

b) "Remontemos à época dos visigodos" (Séguier);

c) "É próprio do historiador remontar ao passado".

3) É certo que o verbo haver pode significar tempo passado em expressões que guardam algum ponto comum de sentido com a idéia de remontar. Exs.:

a) " vários dias não leio os jornais";

b) "O advogado chegou duas horas".

4) Veja-se, contudo, que o verbo haver, em tais casos, pode, normalmente, ser substituído por fazer. Exs.:

a) "Faz vários dias não leio os jornais";

b) "O advogado chegou faz duas horas".

5) Sem maiores dificuldades, é forçosa a conclusão de que, quando se emprega o verbo remontar, inviável é tal substituição do a por alguma forma do verbo fazer.

6) Ou seja, de modo específico para a indagação analisada:

a) "Esta tradição remonta a quatro mil anos" (correto);

b) "Esta tradição remonta há quatro mil anos" (errado).

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.