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A meu ver ou ao meu ver?

Confira o texto "A meu ver ou ao meu ver?"

23/1/2008

O leitor Luiz Guilherme Porto de Toledo Santos envia ao Dr. José Maria da Costa a seguinte mensagem:

 

"Já ouvi e li várias vezes, de inúmeros ilustres a expressão 'ao meu ver' ao invés de 'a meu ver'. Ela está correta?"

1) A referida expressão tem o significado de no meu conceito, na minha opinião, segundo penso. Ex.: "A proposta do diretor, a meu ver, não faz sentido".

2) É verdade que, numa rápida pesquisa, os exemplos encontrados nos bons autores, gramáticos e dicionaristas apontam para um só emprego: a meu ver, e não ao meu ver. Exs.:

I) "Isso, a meu ver, é asneira" (Cândido de Figueiredo)1;

II) "A meu ver, ele é honesto" (Antônio Houaiss).2

3) Ocorre, porém, que, em nosso idioma, os pronomes possessivos, tradicionalmente, admitem de modo facultativo o emprego do artigo antes de si. Exs.:

a) "Meu trabalho é cansativo" (correto);

b) "O meu trabalho é cansativo" (correto);

c) "Ele pintou nossa casa" (correto);

d) "Ele pintou a nossa casa"(correto).

4) Sendo optativo o emprego do pronome possessivo em tais casos, à falta de regra gramatical específica que diga o contrário, não parece haver motivo para tratar diferentemente as expressões a meu ver e ao meu ver, de modo que são igualmente corretos os seguintes exemplos:

a) "A proposta do diretor, a meu ver, não faz sentido";

b) "A proposta do diretor, ao meu ver, não faz sentido".

5) O acerto dessa dupla possibilidade de uso se confirma, quando se nota a mesma ocorrência em outra expressão bastante similar, com dois modos corretos de emprego:

I) "Em meu modo de ver, a proposta do diretor não faz sentido";

II) "No meu modo de ver, a proposta do diretor não faz sentido".

_______

1Cf. FERNANDES, Francisco. Dicionário de Verbos e Regimes. 4. ed. 16. impressão. Porto Alegre: Editora Globo, 1971, p. 595.

2Cf. HOUAISS, Antônio (Organizador). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, p. 2.843.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.