Gramatigalhas

Voltar atrás?

Confira o texto "Voltar atrás?"

26/12/2007

O leitor Carlos Ismar Baraldi envia-nos a seguinte mensagem: 

"É correto ou redundante dizer: "o réu confessou e depois voltou atrás", já que voltar significa atrás? Existe a fórmula para diferenciar desdizer-se de conduta física de retornar?"

1) O verbo voltar significa ir ou vir de um ponto para outro local onde antes se esteve. Exs.:

I) "Voltou ao início da página";

II) "Voltou a Paris depois de muitos anos";

III) "Voltou ao seu humilde lugar".

2) Ao contrário do que possa parecer, contudo, voltar não implica necessariamente considerar um ponto físico que esteja posto atrás da pessoa considerada, mas tem um conteúdo semântico de modificação, de alteração de posição.

3) Por isso, não há erro algum a se apontar na expressão voltar atrás, mesmo que seja com o significado de desfazer o que foi feito, ou arrepender-se, ou desistir, como é de fácil constatação em nossos melhores escritores, emprego esse que conta com o respaldo de nossos gramáticos. Exs.:

I) "Pressionado pela opinião pública, o governo voltou atrás e revogou o decreto" (Domingos Paschoal Cegalla)1;

II) "Palavra de alfageme não volta atrás" (Rebelo da Silva)2;

III) "Não havia meio de fazê-lo voltar atrás" (José de Alencar)3.

4) Anota-se, adicionalmente, porém, quanto à expressão voltar para trás, que Domingos Paschoal Cegalla, sem explicar os motivos da condenação, afirma ser essa uma "redundância inaceitável", a qual, por conseguinte, "deve ser evitada".4

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1Cf. CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1999, p. 415.

2Cf. FERNANDES, Francisco. Dicionário de Verbos e Regimes. 4. ed. 16. impressão. Porto Alegre: Editora Globo, 1971, p. 602.

3Cf. JUCÁ (Filho), Cândido. Dicionário Escolar das Dificuldades da Língua Portuguesa. 3. ed., 2ª tiragem. Rio de Janeiro: FENAME – Fundação Nacional de Material Escolar, 1963, p. 662/663.

4Cf. CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1999, p. 415.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.