A leitora Mônica Yoshizato envia-nos a seguinte mensagem:
"Caro Professor José Maria, com relação à dúvida respondida hoje, do leitor Paulo Trevisani, pergunto-lhe: Está correto dizer 'Não lhe restando ao credor (...)' (Migalhas 1.742 – 19/9/07 – "Gramatigalhas" – clique aqui). Não seria de se dizer: 'Não restando ao credor (...)'?"
Também indaga Natáli Nunes da Silva:
"Na frase 'Não lhe restando ao credor outra alternativa', a dúvida do migalheiro era no 'outra' (Migalhas 1.742 – 19/9/07 – "Gramatigalhas" – clique aqui). O meu questionamento, no entanto, é na presença dos 'lhe' e 'ao credor' nesta mesma sentença."
E remata a leitora Luciana Cardoso:
"Caro Professor, com relação à frase analisada no Gramatigalhas de hoje, está correto 'não LHE restando AO CREDOR outra alternativa...' (Migalhas 1.742 – 19/9/07 – clique aqui)? Não seria mais adequado optar entre utilizar o pronome 'lhe' ou especificar 'ao credor'? Muito obrigada!"
1) Normalmente se diz: Não resta ao credor outro caminho. E, se o credor já foi mencionado anteriormente, então se substitui pelo pronome: Não lhe resta outro caminho. Tais são formas contra as quais não pesa objeção alguma.
2) A indagação, porém, é se está correto dizer: Não lhe resta ao credor outro caminho. Ou, em termos técnicos, quer-se saber se se pode empregar um pleonasmo como esse.
3) Pleonasmo (de pleos, em grego, que quer dizer abundante) significa, em síntese, uma repetição, no falar ou escrever, de idéias ou palavras que tenham o mesmo sentido.
4) Trata-se de termo genérico, que tanto pode adornar a linguagem, como torná-la feia e sem encanto. No primeiro caso, em que se busca dar força à expressão, chama-se pleonasmo de estilo. Ex.: "Vi com meus próprios olhos". No segundo caso, caracteriza vício de linguagem e chama-se pleonasmo vicioso (também denominado tautologia – do grego, significando mesmo ou idêntico), e isso porque, longe de enfeitar o estilo, apenas repete, de modo desnecessário, idéia já referida. Ex.: "Subir para cima".
5) Uma consulta aos melhores escritores mostra que o exemplo da indagação constitui um pleonasmo de estilo, de vernaculidade inquestionável: Não lhe resta ao credor outro caminho.
6) Apenas se esclarece que, num tempo em que o apuro no uso do idioma não é a tônica e não se obedece nem mesmo às regras básicas de estruturação lingüística, são de raríssimo emprego formas adornadas com figuras de estilo. Isso, porém, não acarreta sua incorreção.
7) Vale a pena acrescentar que, além dos lapsos mais comuns no campo da tautologia (subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora, menino homem...) e verificáveis a uma simples leitura, há outros de identificação um pouco mais difícil, os quais, exatamente, por isso, exigem maior atenção: monopólio exclusivo (está ínsita em monopólio a idéia de exclusividade), principal protagonista (protagonista já é o personagem principal), manusear com as mãos (manusear já tem por radical, em latim, a idéia de atuar com as mãos), preparar de antemão (por força do prefixo latino pre, preparar já tem em si a idéia de anterioridade), prosseguir adiante (não há como prosseguir para trás, já que o prefixo latino pro tem o significado de movimento para a frente), prever antes (por força do prefixo latino pre, significando anterioridade, prever depois não é prever).
8) Ainda observando que nem sempre é fácil identificar tautologias, quer por desconhecimento do real significado das palavras, quer porque há expressões que estão enraizadas no uso e são de difícil expurgo, são trazidos alguns outros exemplos: abertura inaugural, acabamento final, detalhes minuciosos, metades iguais, empréstimo temporário, encarar de frente, planejar antecipadamente, superávit positivo, vereador da cidade.