1) Um leitor afirma haver encontrado em um dicionário português acentuação gráfica em plurais de palavras oxítonas terminadas em 's', como satanáses e ananáses. E indaga se essas são formas permitidas.
2) Diga-se, num primeiro momento que (deixando a questão da acentuação gráfica para um segundo momento), as palavras satanás e ananás fazem seus plurais, respectivamente, em satanases e ananases. Nesse ponto, seguem a regra de formação normal de plural, na esteira de tantas outras, como ás (ases) e gás (gases).
3) Num segundo momento, é regra que se acentuam graficamente as palavras oxítonas (ou seja, aquelas cuja última sílaba é pronunciada mais fortemente) terminadas em a, e, o, seguidas ou não de s: jacá(s), rapé(s), cipó(s).
4) Num terceiro momento, porém, é preciso observar dois aspectos: (i) uma palavra pode, por exemplo, ser oxítona no singular, mas não no plural; (ii) nesse caso, a análise deve ser individualizada em cada uma delas, para verificação da acentuação gráfica; (iii) e esse raciocínio pode acarretar a conclusão de que uma palavra seja acentuada no singular, mas não no plural.
5) Assim, satanás e ananás são oxítonas terminadas em a(s) e, por isso, são acentuadas graficamente. Já satanases e ananases são paroxítonas, e não há razão técnica alguma para receberem acento gráfico. Desse modo, são incorretas as formas satanáses e ananáses.
6) Por fim, é preciso fazer dois pequenos reparos na consulta do leitor. O primeiro: satanás e ananás são acentuadas graficamente porque realmente são oxítonas terminadas em a, seguidas (poderiam não ser) de s. A justificativa do leitor, assim, não é adequada, já que nem toda oxítona vai ser acentuada somente porque termina em s. Basta ver abacaxis, fuzis, juritis, angus e tatus. O segundo: embora satanás e ananás sejam oxítonas, não o são, porém, satanases e ananases.