1) Um leitor indaga qual a razão para retrocitar (verbo) e retrocitado (adjetivo) constarem do VOLP, mas não dos principais dicionários brasileiros. Sem dúvida, uma excelente e oportuna questão.
2) Pode-se dizer, em termos bem práticos, que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa é, por assim dizer, uma espécie de dicionário que lista as palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua portuguesa, bem como lhes fornece a grafia oficial.
3) Também conhecido pela sigla VOLP, seu objetivo é reconhecer a existência e consolidar a grafia dos vocábulos, além de classificá-los pelo gênero (masculino ou feminino) e pela categoria morfológica (substantivo, adjetivo...).
4) Difere dos dicionários convencionais, por não explicar usualmente o significado dos termos que registra.
5) É elaborado pela Academia Brasileira de Letras, que tem a delegação e a responsabilidade legal de editá-lo, desde a vetusta Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8 de dezembro de 1900, incumbência essa corroborada por diversos diplomas legais posteriores.
6) Oportuno é reiterar que, incumbido por lei específica para sua confecção, quem o elabora goza de autoridade para, nesse campo, dizer o Direito, motivo por que, ao consultá-lo, legem habemus e devemos prestar-lhe obediência, como devemos fazer com respeito aos demais diplomas legais. Qualquer discussão ou divergência há de ficar para o plano da ciência, não consistindo, todavia, em válvula que permita o descumprimento de suas determinações
7) Em comunhão com tal pensamento, para José de Nicola e Ernani Terra, esse vocabulário "é a palavra oficial sobre a ortografia das palavras da língua portuguesa no Brasil"1, não se podendo olvidar que também é a palavra oficial no que concerne à própria existência dos vocábulos em nosso idioma.
8) No caso da consulta, noticia o leitor que os vocábulos que ele aponta constam do VOLP, mas não dos dicionários Aurélio e Houaiss.
9) E, ante essa realidade de fato, é importante observar que, por força da autoridade da ABL e do VOLP que ela edita, os estudiosos da língua e os dicionaristas, sem sombra de dúvida, prestam relevantes serviços ao vernáculo. Não são eles, porém, as autoridades para dizerem, com valor oficial, acerca da existência ou não de algum vocábulo em nosso idioma, bem como acerca de sua grafia e de suas peculiaridades, ou mesmo de sua correção no idioma.
10) Insista-se em que a atribuição de dizer oficialmente se um vocábulo existe ou não em nosso idioma cabe, com exclusividade, à Academia Brasileira de Letras, e esta a exerce por via da edição do VOLP. Desse modo, na divergência entre os gramáticos, filólogos e dicionaristas de um lado, e o VOLP de outro, há de prevalecer, nesse campo, o que registra este último com toda a sua autoridade oficial.
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1 NICOLA, José de; TERRA, Ernani. 1.001 Dúvidas de Português. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 231.