Gramatigalhas

Ou – E se um dos núcleos do sujeito for plural?

Um leitor, atento à questão de núcleos de sujeito unidos pela conjunção ou, traz a seguinte indagação: “E se a conjunção ou, indicando exclusão mútua, unir dois núcleos do sujeito, um no singular e outro no plural, como fica a concordância do verbo?"

23/11/2022
O leitor Walace Maia envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"E se a conjunção 'ou', indicando exclusão mútua, unir dois núcleos do sujeito, um no singular e outro no plural, como fica a concordância do verbo?"

1) Um leitor, atento à questão de núcleos de sujeito unidos pela conjunção ou, traz a seguinte indagação: "E se a conjunção ou, indicando exclusão mútua, unir dois núcleos do sujeito, um no singular e outro no plural, como fica a concordância do verbo?"

2) Ora, costuma-se afirmar que, quando os elementos do sujeito vêm ligados pela conjunção ou, com ideia de exclusão, o verbo fica no singular. Exs.: a) "Pedro ou Paulo casará com Maria"; b) "A União, o Estado, ou o Município, oferecerá ao ex-proprietário o imóvel desapropriado, pelo preço por que o foi, caso não tenha o destino, para que se desapropriou" (CC/1916, art. 1.150).

3) Se, porém, não há a ideia de exclusão, mas sim de concomitância, de rigor é a concordância do verbo no plural. Ex.: "Pedro ou Paulo comparecerão à audiência".

4) Ao se pensar em tal regra com o ou indicando exclusão, entretanto, imaginam-se normalmente ambos os núcleos do sujeito no singular. O leitor, todavia, indaga como fica a concordância, em caso da ideia de exclusão, mas na hipótese em que um dos núcleos está no singular e o outro está no plural.

5) Em vez de se afirmar, como regra, que, em tal caso, o verbo fica no singular, é mais preciso dizer com Evanildo Bechara que, quando os núcleos do sujeito se unem pela conjunção ou e um de tais núcleos está no singular e o outro no plural, o verbo concorda com o núcleo que está mais próximo. Ex.: "Cantares é o nome que o autor ou autores do Cancioneiro chamado do Colégio dos Nobres dão a cada um dos poemetos...".1

6) De Domingos Paschoal Cegalla vem idêntica lição e exemplo, mesmo com o sujeito anteposto ao verbo: "O ladrão ou os ladrões não deixaram nenhum vestígio".2

7) Resumindo para o leitor: quando se está diante da conjunção ou que une núcleos do sujeito um no singular e outro no plural, o verbo concorda com o núcleo que estiver mais próximo, razão pela qual se propõem, adicionalmente, duas variáveis dos exemplos anteriores, ambos igualmente corretos: (i) "Cantares é o nome que o autor ou autores do Cancioneiro chamado do Colégio dos Nobres a cada um dos poemetos..."; (ii) "Não deixou o ladrão ou os ladrões nenhum vestígio".

__________

1 BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 19. ed., segunda reimpressão. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974, p. 305.

2 CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1999, p. 302.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.