1) Um leitor traz dúvida quanto ao emprego de vírgula para separar as orações subordinadas adverbiais de suas respectivas orações principais, podendo-se destacar os seguintes pontos: (i) a vírgula pode ou não pode ser usada para separar a oração principal da subordinada adverbial na ordem direta?; (ii) em uma informação encontrada na internet, teve ele a informação de que "a vírgula pode ser usada para separar a oração principal da subordinada adverbial"; (iii) e ele ficou na dúvida; (iv) afinal, pode ou não pode?
2) Ora, para não haver um excesso de informações teóricas (até porque a indagação do leitor é direta e pressupõe seu conhecimento do assunto especificamente tratado quanto à análise sintática), deixa-se de trazer uma série de informações sobre o que sejam orações subordinadas adverbiais e o que sejam orações principais.
3) Feitas essas observações, invoca-se, por aplicável ao caso, uma regra específica para o emprego da vírgula nos períodos compostos: as orações subordinadas adverbiais, desde que não sejam de pequena extensão, normalmente são separadas por vírgula de suas orações principais, não importando qual delas vem antes. Exs.: (i) "A memória dos velhos é menos pronta, porque seu arquivo é mais extenso" (oração subordinada adverbial causal); (ii) "O homem prudente se humilha pela experiência, como as espigas se curvam por maduras" (oração subordinada adverbial comparativa); (iii) "Não desfrutou o resultado de seu esforço, embora tenha trabalhado a vida toda" (oração subordinada adverbial concessiva); (iv) "Os homens seriam incapazes de heroísmo, se não tivessem alguma coisa de loucos" (oração subordinada adverbial condicional); (v) "Viajou para o exterior com todos os seus pertences, conforme lhe determinara o severo pai" (oração subordinada adverbial conformativa); (vi) "Devemos viver a nossa vida de tal modo, que possamos não recear depois da morte" (oração subordinada adverbial consecutiva); (vii) "Fiz-lhe sinal de modo claro e intenso, para que não cometesse alguma indiscrição naquela hora" (oração subordinada adverbial final); (viii) "O instinto dos homens enfraquece, à medida que sua razão se desenvolve" (oração subordinada adverbial proporcional); (ix) "Ele se desesperou de todas as circunstâncias e possibilidades, quando percebeu a total falta de saídas para seu problema" (oração subordinada adverbial temporal).
4) Com essas informações, podem-se extrair as seguintes ilações com respeito às indagações formuladas pelo leitor: (i) se a oração subordinada é de razoável extensão, usa-se a vírgula para separá-la de sua oração principal, não importando a ordem em que elas se encontrem, tudo como está no item anterior; (ii) se, porém, a oração subordinada é de pequena extensão e vem depois da oração principal, pode-se dispensar a vírgula (como no exemplo "Vim aqui para trabalhar"; (iii) nesse caso, entretanto, se a oração subordinada vem antes da principal, utiliza-se a vírgula (como no exemplo "Se quiser, pode ficar aqui"; (iv) deve-se ponderar, entretanto, que, diferentemente de outros aspectos de Gramática (como os equívocos de concordância e de regência), a pontuação não constitui ponto em que exista clara distinção entre o certo e o errado; (v) por essa razão, o leitor vai encontrar diversos exemplos que podem vir a contrariar o que aqui se afirma; (vi) importa finalizar dizendo, contudo, que, seguindo pelos caminhos aqui traçados, o leitor não vai cometer erros nesse assunto.