1) Dois leitores, utilizando exemplos diferentes, acabam por fazer a mesma indagação, que assim pode ser resumida: é correto dizer "Fulano de Tal, grande jurista, morto em 2010, contribuiu ..."; ou, então, "Fulano de tal.... morto no dia tal, no instituto do coração..."? Acrescente-se, para facilitar a explicação, um outro exemplo: "O bandido, morto na prisão, tinha pena longa para cumprir".
2) Um primeiro esclarecimento já começa a resolver a questão em sua base: curiosamente, morto é o particípio passado irregular de dois verbos quase que opostos: matar e morrer. Exs.: a) "A vítima está morta" (morrer); b) "O ladrão também foi morto" (matar).
3) Para completar as premissas para o raciocínio aqui feito, anota-se que os particípios passados de tais verbos são, respectivamente, morrido e matado. Exs.: a) "A vítima tinha morrido"; b) "A polícia havia matado o bandido".
4) Ora, porque morto é particípio passado irregular tanto de matar como de morrer, verbos esses de conteúdo semântico quase que oposto, acaba ocorrendo obscuridade quanto ao sentido da frase quando ele é empregado sem maior atenção: (i) assim, quando se diz "Fulano de Tal, grande jurista, morto em 2010, contribuiu ...", não se sabe se ele morreu de causas naturais, ou se foi assassinado; (ii) o mesmo se dá quando se diz "Fulano de Tal, morto no dia tal no Instituto do Coração...".
5) Ante essas considerações, podem-se observar os seguintes aspectos: (i) num primeiro plano, deve-se afirmar que está gramaticalmente correto o emprego dos verbos tais como propostos nos exemplos das consultas; (ii) num segundo aspecto, entretanto, o certo é que, quanto ao sentido, vê-se que – uma vez que morto é o particípio passado irregular tanto de matar como de morrer – os exemplos acabam mergulhados na ambiguidade em boa parte das falas; (iii) e, assim, o melhor, para evitar ambiguidade e obscuridade, é substituir tal verbo por um sinônimo que não dê margem a nenhuma dúvida semântica.
6) Por isso se particularizam as seguintes situações: (i) quanto ao exemplo acrescido "O bandido, morto na prisão...”, deve-se optar por “O bandido, falecido na prisão..." para a hipótese de morte por causas naturais, ou “O bandido, assassinado na prisão..." para o caso de morte causada por terceiros; (ii) seguindo o mesmo raciocínio para o primeiro exemplo da consulta, deve-se preferir "Fulano de Tal, grande jurista, falecido em 2010, contribuiu ..." ou "Fulano de Tal, grande jurista, assassinado em 2010, contribuiu ..."; (iii) de igual modo para o segundo exemplo da consulta, é melhor especificar, dizendo "Fulano de tal.... falecido no dia tal, no instituto do coração...", ou "Fulano de tal.... assassinado no dia tal, no instituto do coração...".