Gramatigalhas

Ensinando a aprender – Está correto?

Ensinando a aprender – Está correto? O Professor esclarece.

13/10/2021

A leitora Olinda Camara envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Prezado Dr. José Maria: Em uma revista de bairro da zona oeste vejo constantemente o anúncio de uma escola, cujo slogan é: 'ensinando a aprender a estudar'. Está correto? Não deveria ser 'ensinando a estudar'? Grata".

1) Uma leitora relata ter lido em uma revista um anúncio de escola com o seguinte slogan: "Ensinando a aprender a estudar". E indaga se o correto não seria simplesmente "Ensinando a estudar".

2) Observa-se, de início, que a questão aqui posta não diz respeito diretamente à Gramática, e sim à Estilística (que é o "ramo da linguística que estuda a língua na sua função expressiva, analisando o uso dos processos fônicos, sintáticos e de criação de significados que individualizam estilos".1

3) Com essa observação, vê-se que, quando se diz "ensinando a aprender a estudar", considera-se um originador do ato de ensinar, um destinatário desse ato e, entre ambos, o objeto respectivo; já quando se diz "ensinando a estudar", o destinatário fica subentendido.

4) Ambas as expressões, entretanto, são corretas e intercambiáveis no plano gramatical, e quem criou o slogan do caso da consulta, ao que tudo indica, quis valer-se, para efeito de propaganda, da contraposição de conteúdo entre os vocábulos ensinar e aprender.

5) Em termos de estrutura de conversa, importa observar que, quando todos os termos estão aparentes, o autor da expressão vale-se de uma Lógica direta (que pressupõe a presença de todos os termos, sem subentender nenhum deles), enquanto aquele que subentende algum deles vale-se da Lógica indireta.

6) Comparando os povos em suas características, pode-se dizer que os portugueses são mais chegados à Lógica direta, enquanto os brasileiros, à indireta. E isso pode dar margem a mal-entendidos e a situações curiosas, como se passa a exemplificar.

7) Um amigo brasileiro que adquiriu a cidadania portuguesa e resolveu visitar Portugal, viajou por uma companhia aérea portuguesa. Ao ser servido o jantar, uma comissária de bordo portuguesa lhe perguntou: "Aceita jantar?" E ele respondeu com outra pergunta: "Quais são as opções?" E ela lhe disse: "Sim ou não".

8) Uma análise do diálogo de acordo com os aspectos acima comentados mostra que, para se enquadrar na Lógica direta, meu amigo deveria primeiro responder à indagação dela com um "sim" ou "depende", e apenas em seguida fazer-lhe a pergunta "Quais são as opções". Ele, porém, suprimiu um "sim" imprescindível para a Lógica direta, e daí adveio toda a confusão.

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1 HOUAISS, Antônio (Organizador). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, p. 1.254.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.