Gramatigalhas

Deságuam – Por que é acentuada?

Deságuam – Por que é acentuada? O Professor esclarece.

29/9/2021

O leitor Raimundo Euzimar de Souza Gomes envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Eu gostaria de saber qual a regra que justifica acentuar palavras como 'deságuam'. Pelo que compreendo, trata-se de uma paroxítona terminada em tritongo. Existe esta regra de acentuação?".

1) Um leitor parte, por um lado, da afirmação de que, no final do vocábulo deságuam, há um tritongo; e indaga qual a regra que justifica sua acentuação.

2) Ora, em termos de fixação de premissas, importa observar que se costuma justificar a acentuação de vocábulos como Cláudia e Sílvio com o argumento de que são palavras paroxítonas (vale dizer, são palavras em que a sílaba forte é a penúltima) com ditongo na última sílaba (e ditongo significa tecnicamente dois sons vocálicos em mesma sílaba): Cláu-dia e Síl-vio.

3) E a razão para tais palavras receberem acento gráfico é que ditongos crescentes como esses (primeiro vem a semivogal [i, com som mais fraco] e depois a vogal [a ou o, com som mais forte]) também podem ser considerados hiatos (ou seja, sons vocálicos que se encontram na palavra, mas se põem em sílabas distintas) e, desse modo, tais palavras também podem ser consideradas proparoxítonas (e todas proparoxítonas são acentuadas em português): Cláu-di-a e Síl-vi-o.

4) Com essas ponderações, se o vocábulo da consulta fosse deságua, a explicação estaria clara: ou se considera uma paroxítona com ditongo na última sílaba (de-sá-gua), ou se considera uma proparoxítona (de-sá-gu-a); e, qualquer que seja a interpretação a esse respeito, o vocábulo é graficamente acentuado, já que em português tanto são acentuadas graficamente as paroxítonas terminadas com ditongo crescente como as proparoxítonas.

5) Quando, entretanto, se considera o vocábulo deságuam, o leitor tem razão, quando afirma que há um tritongo (três sons vocálicos) na última sílaba. É que, embora a representação do último som seja graficamente um m, o certo é que ele soa como um o anasalado (algo como deságuão). E, desse modo, partindo da representação gráfica por último referida, tem-se a divisão silábica em de-sá-guão, o significa a junção de três sons vocálicos em uma só sílaba.

6) Com essa explanação como premissa, acresce dizer que o mesmo motivo de acentuação gráfica de deságua perdura para deságuam, e até com maior razão: ou se considera que o último vocábulo é uma paroxítona com tritongo na última sílaba (de-sá-guam, com a realidade fonética de-sá-guão); ou, então, no mínimo, que é uma proparoxítona (de-sá-gu-am, com a realidade fonética de-sá-gu-ão). Nesse caso, não há razão para não considerar como motivação idêntica uma paroxítona com ditongo na última sílaba e uma paroxítona com tritongo na última sílaba.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.