O leitor Emerson Mourão envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:
"Parece-me que o verbo agradecer é transitivo direto, de modo que deve exigir como complemento o pronome lhe. Tenho ouvido insistentemente, porém, seu emprego com o complemento do pronome oblíquo o. Pergunto, assim, qual dos dois exemplos seguintes é correto: (a) "Vim aqui para agradecê-lo"; (b) "Vim aqui para agradecer-lhe".
1) Um leitor indaga, em suma, qual dos exemplos seguintes é gramaticalmente correto: (i) "Vim aqui para agradecê-lo"; (b) "Vim aqui para agradecer-lhe".
2) Vale sempre lembrar, como princípio básico, que o estudo do relacionamento entre as palavras na frase diz respeito a uma parte da Gramática denominada sintaxe (do grego sin = conjunto + taxe = construção).
3) E o capítulo específico da Gramática que trata das preposições exigidas pelo verbo para iniciar seu complemento (ou mesmo ausência de preposição) chama-se regência verbal.
4) Em nosso idioma, as questões de construção, ou seja, de sintaxe, são solucionadas pelo uso que nossos melhores autores, desde Camões (1524-80), fizeram do idioma pátrio. E a expressão melhores autores deve abranger aqueles escritores que em[1]pregaram o vernáculo com apuro e zelo.
5) Buscar, porém, na obra literária dos nossos melhores autores, como foi o emprego da regência do verbo agradecer é como procurar agulha em palheiro.
6) Mas isso não é necessário, pois, de um modo geral, estudiosos e gramáticos já realizaram preciosos estudos nesse sentido, compilaram milhares de exemplos e sistematizaram, em monografias merecedoras de aplausos, grande parte da sintaxe de vocábulos dessa natureza.
7) De modo específico para os limites da indagação, ensina Domingos Paschoal Cegalla que o verbo agradecer "constrói-se com objeto indireto de pessoa" (e pede a preposição a). Ex.: "Ele agradeceu ao doutor e saiu" (1999, p. 16).
8) Feita essa observação de que o verbo agradecer, nesse sentido, pede objeto indireto com a preposição a, caminha-se mais um passo. Os pronomes pessoais oblíquos átonos o, a, os e as servem para funcionar como objetos diretos, enquanto os pronomes lhe e lhes servem para substituir objetos indiretos. Exs.: a) "O juiz sentenciou o caso"; b) "O juiz sentenciou-o"; c) "O documento pertence aos autos"; d) "O documento pertence-lhes".
9) Com essas premissas, parece não haver dúvida, assim, quanto ao acerto ou erronia dos seguintes exemplos, para quando se quer agradecer a uma pessoa: a) "Ele quis agradecer o autor" (errado); b) "Ele quis agradecê-lo" (errado); c) "Ele quis agradecer ao autor" (correto); d) "Ele quis agradecer-lhe" (correto).
10) Feitas essas ponderações, responde-se objetivamente à indagação do leitor: (i) "Vim aqui para agradecê-lo" (errado); (b) "Vim aqui para agradecer-lhe" (correto).