Gramatigalhas

Ridicularizar ou Ridiculizar?

O leitor José Celso de Camargo Sampaio, do escritório Demarest e Almeida Advogados, enviou-nos a seguinte mensagem: "Ao professor José Maria:(Gramatigalhas): Tenho visto 'ridicularizar' e 'ridiculizar'. Esta última, como se vê, formada de ridículo+izar, parece-me de construção mais regular. 'Ridicularizar' é formada ridicular+izar, e entra em sua composição o elemento 'ridicular' que parece estranho. Gostaria de ouvir a opinião do professor e velho colega."

20/12/2006

O leitor José Celso de Camargo Sampaio, do escritório Demarest e Almeida Advogados, enviou-nos a seguinte mensagem:

"Ao professor José Maria:(Gramatigalhas): Tenho visto 'ridicularizar' e 'ridiculizar'. Esta última, como se vê, formada de ridículo+izar, parece-me de construção mais regular. 'Ridicularizar' é formada ridicular+izar, e entra em sua composição o elemento 'ridicular' que parece estranho. Gostaria de ouvir a opinião do professor e velho colega."

1) A língua é uma estrutura dinâmica, e com freqüência é necessário criar novas palavras para expressar novas realidades. Foi assim que surgiram telégrafo, autódromo, astronauta, telex, xerox, etc.

2) E o consulente demonstra saber as regras de formação de palavras dessa natureza em nosso idioma, como se dá com a palavra objeto da indagação feita: põe-se um radical (ridículo) e um sufixo (izar).

3) É importante, num primeiro momento, observar que, quando se quer formar uma nova palavra em português (tecnicamente se chama neologismo), deve-se atentar se há real necessidade de criar novo vocábulo, pois o neologismo só se justifica pela necessidade de algo novo.

4) Um segundo aspecto é que a nova palavra deve obedecer aos ditames normais para formação de novas palavras no idioma no caso, verificar se o radical (ridículo) está correto e se realmente existe o prefixo pretendido (izar), etc.

5) A exigência concomitante de ambos os requisitos era assim resumida por Rui Barbosa, que opinava em seqüência: "Salvos os casos de necessidade ou utilidade, e boa adaptação vernácula, voto contra o neologismo".1

6) Feitas essas observações iniciais, acresce dizer que, por força da vetusta Lei Eduardo Ramos, de 726, de 8.12.1900, a autoridade para listar oficialmente os vocábulos existentes em nosso idioma está com a Academia Brasileira de Letras, e ela o faz por intermédio da edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é uma lista imensa de tais vocábulos, com ligeiras especificações de categoria gramatical, gênero e, muito raramente, de sentido ou outra observação adicional.

7) No caso, uma consulta do VOLP vai revelar que, independentemente de boa ou má formação em nosso idioma, existem ambos os vocábulos: um formado de forma mais regular (ridiculizar) e outro formado de modo menos convencional para as regras do idioma (ridicularizar).2 E, se o VOLP atesta oficialmente a existência de ambos os vocábulos, não há como levantar questionamento algum no plano dos fatos.

___________

1Cf. BARBOSA, Rui. Réplica. p. 570.

2Cf. Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Imprinta, 2004. p. 691.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.