Gramatigalhas

Cadeirante e Medalhista – Existem?

Cadeirante e Medalhista – Existem? O Professor esclarece.

23/9/2020

O leitor Jorge Roberto Pimenta envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Caro doutor José Maria da Costa, fui seu aluno de Direito na UNAERP, há mais de 30 anos. Minha questão é bastante singela: Existe o termo 'cadeirante'? E existe 'medalhista'? Porque cadeira é substantivo. Medalha também. E criaram um monstrengo para indicar as pessoas deficientes físicas que usam a cadeira de rodas e, igualmente, para as que conquistam medalhas em certames e jogos. Não é errado dizer cadeirante ou medalhista?"

1) Um leitor indaga, em síntese, se existem no vernáculo, em linguagem culta, os vocábulos cadeirante e medalhista.

2) Inicia-se esta resposta com a observação de que, entre nós, a Academia Brasileira de Letras é o órgão incumbido, por delegação legal, desde a lei 726/1900, de definir a existência, a grafia oficial, o gênero e as peculiaridades dos vocábulos em nosso idioma, e ela, para atender a essa autorização legal, o faz oficialmente pela edição, de tempos em tempos, do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Mais modernamente, ela também tem disponibilizado em seu site pela internet o rol dessas palavras e expressões oficialmente existentes.

3) Com essa anotação como premissa, uma consulta à referida obra revela que ambos os vocábulos existem em nosso idioma1: e, para os dicionaristas, o primeiro deles, no caso, significa o "deficiente físico que utiliza cadeira de rodas" 2, e o segundo indica o conteúdo semântico daquele "que ganha medalha em competições".3

4) Em primeira ponderação complementar, vê-se que não deve causar espanto que tais vocábulos se associem a substantivos, como cadeira e medalha, uma vez que é bastante comum tal ocorrência no vernáculo, como também é o caso de mesa (que se associa a mesário) e comendador (que se relaciona a comenda).

5) Em segunda ponderação complementar, anota-se que o Dicionário Houaiss não registra a palavra cadeirante, o que poderia gerar algum tipo de dúvida na mente de algum leitor. A esse respeito, entretanto, deve-se esclarecer que os dicionaristas, sem sombra de dúvida, prestam relevantes serviços ao vernáculo; não são eles, porém, as autoridades para dizerem, com valor oficial, acerca da existência ou não de algum vocábulo em nosso idioma, e sim a Academia Brasileira de Letras, de modo que, na divergência entre eles e o VOLP nesse campo, há de prevalecer o que se registra neste último.

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1 Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Imprinta, 2004, p. 143 e 535.

2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010, p. 380.

3 HOUAISS, Antônio (Organizador). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Ob­jetiva, 2001, p. 1.876.

 

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.