Gramatigalhas

Concordância verbal – Caso prático

Concordância verbal – Caso prático. Veja a explicação do professor José Maria da Costa.

8/4/2020

O leitor A. Conde envia a seguinte mensagem para a seção Gramatigalhas:

"Senhores: Recebi cópia de mensagem dirigida ao ilustre jornalista Clóvis Rossi. Confesso que fiquei na dúvida. Será que o "nosso" ilustre consultor José Maria da Costa poderia esclarecer? Cordialmente."

Eis a mensagem:

"Caro jornalista Clóvis Rossi: No seu artigo "Sangue no verde-e-amarelo", de hoje, saiu este parágrafo: 'Essa é matéria opinável. Tampouco é um problema o fato de Miguel Jorge e comitiva empresarial estarem em Teerã para fazer negócios. Desde sempre, países fazem negócios com quem lhes convêm, sem olhar minimamente para o caráter do regime com o qual negociam'. A forma correta é 'convém', porque o pronome 'quem' exige o verbo na 3ª pessoa do singular."

1) Um leitor indaga se, no texto "Desde sempre, países fazem negócios com quem lhes convêm", o verbo está correto, ou deveria ser convém.

2) Antes de responder, anota-se, sem maiores discussões, já que esse não é o centro de nossas preocupações por agora, que, em termos de grafia, o verbo convir, na esteira dos demais compostos de vir, é escrito do seguinte modo: ele convém (singular), eles convêm (plural).

3) Em continuação, se o que se quer saber é se o verbo fica no singular ou vai para o plural, então é preciso anotar que a questão é de concordância verbal, o que exige que se defina qual o sujeito do verbo convir na oração a que ele pertence.

4) E, assim, também sem preocupações excessivas com a teoria, lança-se mão de uma indagação bastante simples para definir qual o sujeito do verbo convir na oração mencionada: o que é que convém?

5) E a resposta é bastante clara e objetiva: fazer negócios. Um sujeito oracional, que exige o verbo no singular.

6) E também para maior facilidade de raciocínio, põe-se a oração sob análise em sua ordem direta: ... [fazer negócios] convém-lhes (ou mesmo convém a eles).

7) Em termos práticos e objetivos, traça-se o seguinte roteiro para o exemplo do leitor: (i) para definir se convir fica no singular ou vai para o plural, deve-se verificar qual é o seu sujeito; (ii) e isso porque a primeira e básica regra nesse assunto determina que o verbo concorda com o seu sujeito em número (singular ou plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira); (iii) no caso, o raciocínio lógico mostra que o sujeito de convir é oracional e está oculto (porque mencionado na oração anterior), a saber, fazer negócios; (iv) o exemplo todo seria "Desde sempre, países fazem negócios com quem [fazer negócios] lhes convém" (ou convém a eles); (v) o sujeito oracional determina o verbo no singular, de modo que a forma correta é convém; (vi) o usuário do exemplo foi levado a erro, porque se viu iludido por um lhes no plural logo antes do verbo; (vii) ocorre, todavia, que esse lhes é o objeto indireto, e não o sujeito do verbo analisado.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.