Gramatigalhas

Coronavírus, coronavirus, corona vírus ou vírus corona?

Coronavírus, coronavirus, corona vírus ou vírus corona? O Professor esclarece.

25/3/2020

O leitor Antônio João de Oliveira Machado envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Prezado dr. José Maria, com a infeliz descoberta de mais um vírus do tipo corona, sobreveio, além do necessário cuidado com a saúde, a dúvida de como a ele se referir: 'vírus corona', 'corona vírus' ou ainda 'coronavírus', como é utilizado no 'nosso' Migalhas?"

1) Um leitor indaga, em síntese, qual a maneira correta de denominar o vírus que tem assolado o País e o mundo de modo tão intenso e repentino nas últimas semanas: vírus corona, corona vírus, coronavirus ou coronavírus.

2) Num primeiro aspecto, deve-se observar que, em português, a maneira mais natural de estruturar as palavras é começar com o termo genérico e, em seguida, fazê-lo completar-se por seu termo especificador ou qualificador apartado: bactéria fotossintética, bactéria do tétano, vírus da dengue, vírus ebola.

3) E, seguindo esse modelo correto de estruturação dos vocábulos em nossa língua, é de total acerto escrever vírus corona. Ex.: "O vírus corona tem a característica de espalhar-se com rapidez e intensidade".

4) Num segundo aspecto, é também comum entre nós, na terminologia científica, aproveitar o vocábulo tal como utilizado nos idiomas estrangeiros, sobretudo no inglês, em que se inverte esse posicionamento, de modo que o termo especificador ou qualificador vem antes do termo genérico, formando uma só palavra: actinobactérias, cianobactérias, arbovírus, ebolavírus.

5) E, assim, seguindo essa forma de aproveitamento dos vocábulos estrangeiros em nosso idioma, é perfeitamente correto dizer coronavírus. Ex.: "O coronavírus tem a característica de espalhar-se com rapidez e intensidade".

6) Nesse caso, é preciso observar, primeiro, que normalmente se juntam os elementos em uma só palavra, tal como no idioma do qual é transplantada para o nosso, de modo que estaria errado escrever corona vírus, com a separação dos elementos.

7) Para conferir, veja-se, num primeiro aspecto, que a Academia Brasileira de Letras, que tem a autoridade para dizer oficialmente quais palavras integram o idioma nacional, bem como sua correta escrita, registra exatamente coronavírus na obra que edita regularmente para tanto, ou seja, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.¹

8) Num segundo aspecto, também é preciso observar que, sendo vírus uma palavra paroxítona terminada em us, deve ser graficamente acentuada, assim como todas as terminadas por vírus, na esteira de outras gramaticalmente similares, como bônus e Vênus.

9) Ultime-se com a observação de que grafias que não obedeçam às determinações advindas dessas duas estruturações acima comentadas são condenáveis, como corona vírus (com os elementos assim apartados), ou coronavirus (sem o acento gráfico, obrigatório em português).

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1 Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Imprinta, 2004, p. 221.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.