Gramatigalhas

Vírgula e orações subordinadas adverbiais

Vírgula e orações subordinadas adverbiais é o tema da coluna de hoje do Professor José Maria da Costa.

19/2/2020

O leitor Daniel Augusto Pinheiro Astone envia a seguinte mensagem para a seção Gramatigalhas:

"Caro professor José Maria da Costa: a nota 'Dúvida cruel' (Migalhas 2.414 - 24/6/10 - "Dúvida cruel") veio redigida da seguinte forma: 'Nosso vibrante matutino tem os melhores leitores, porque tem os melhores articulistas? Ou tem os melhores articulistas, porque tem os melhores leitores?' O emprego da vírgula está correto? Obrigado!"

1) Um leitor indaga se está correto o uso da vírgula nos seguintes exemplos: a) "Nosso vibrante matutino tem os melhores leitores, porque tem os melhores articulistas?"; b) "Ou tem os melhores articulistas, porque tem os melhores leitores?"

2) A análise sintática de ambos os exemplos revela os seguintes aspectos: a) os dois períodos são compostos, já que ambos têm mais de uma oração; b) e são compostos por subordinação, já que, em ambos, a segunda oração indica uma circunstância peculiar do que se diz na primeira; c) em ambos, a primeira oração é a oração principal ("Nosso vibrante matutino tem os melhores leitores..." e "[Nosso vibrante matutino] tem os melhores articulistas...)"; d) em ambos, a segunda é uma oração subordinada adverbial causal, já que ambas representam a causa do que se afirma na oração principal ("... porque tem os melhores articulistas" e "... porque tem os melhores leitores").

3) Feitas essas observações atinentes à estrutura sintática dos exemplos trazidos para análise, invoca-se, então, por aplicável ao caso, uma regra específica para o emprego da vírgula nos períodos compostos: as orações subordinadas adverbiais, desde que não sejam de pequena extensão, normalmente são separadas por vírgula de suas orações principais, não importando qual delas vem antes. Exs.: a) “A memória dos velhos é menos pronta, porque seu arquivo é mais extenso” (oração subordinada adverbial causal); b) "O homem prudente se humilha pela experiência, como as espigas se curvam por maduras" (oração subordinada adverbial comparativa); c) "Não desfrutou o resultado de seu esforço, embora tenha trabalhado a vida toda" (oração subordinada adverbial concessiva); d) "Os homens seriam incapazes de heroísmo, se não tivessem alguma coisa de loucos" (oração subordinada adverbial condicional); e) "Viajou para o exterior com todos os seus pertences, conforme lhe determinara o severo pai" (oração subordinada adverbial conformativa); f) "Devemos viver a nossa vida de tal modo, que possamos não recear depois da morte" (oração subordinada adverbial consecutiva); g) "Fiz-lhe sinal de modo claro e intenso, para que não cometesse alguma indiscrição naquela hora" (oração subordinada adverbial final); h) "O instinto dos homens enfraquece, à medida que sua razão se desenvolve" (oração subordinada adverbial proporcional); i) "Ele se desesperou de todas as circunstâncias e possibilidades, quando percebeu a total falta de saídas para seu problema" (oração subordinada adverbial temporal).

4) E, uma vez postas essas ponderações, confiram-se as respostas às indagações do leitor: a) as vírgulas estão corretas em ambos os exemplos; b) e isso porque, em ambos, a primeira oração é a oração principal, enquanto a segunda é uma oração subordinada adverbial causal; c) em verdade, por regra específica aplicável ao caso, entre uma oração principal e uma oração subordinada adverbial de alguma extensão, haverá vírgula que as há de separar.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.