Gramatigalhas

Antes de – Atrai o pronome para antes do verbo?

Antes de – Atrai o pronome para antes do verbo? O Professor responde a dúvida.

30/10/2019

A leitora Jacqueline Raulino envia a seguinte indagação ao Gramatigalhas:

"Estou em dúvida com a seguinte frase: 'antes de me manifestar' ou 'antes de manifestar-me'. Qual é a forma correta? Atenciosamente."

1) Uma leitora indaga qual a frase correta quanto à colocação do pronome: "Antes de me manifestar" ou "Antes de manifestar-me"?

2) Ora, a expressão antes de é uma locução prepositiva (vale dizer, duas ou mais palavras que funcionam como preposição), de modo que a pergunta da leitora busca saber se a preposição é uma daquelas palavras que atraem ou não para antes do verbo o pronome pessoal oblíquo átono.

3) Observada a circunstância de que o verbo do exemplo está no infinitivo, traz-se para análise, por primeiro, o ensino de Cândido de Figueiredo, segundo o qual "as preposições pertencem à categoria das partículas que influem geralmente na colocação dos pronomes pessoais atônicos, atraindo-os".

4) Exemplos colhidos pelo referido autor em abalizados escritores de nosso idioma, entretanto, revelam que a colocação do pronome, nesses casos – contrariamente a sua própria lição – é facultativa (ora antes do verbo, ora depois dele). Exs.: a) "Até chegou a me dar casa..." (Machado de Assis); b) "... obriga o procurador a respeitar-lhe as cláusulas" (Rui Barbosa); c) "... era bastante para sacudir-me da Tijuca" (Machado de Assis); d) "Chamou-me um escravo para me servir o doce" (Machado de Assis); e) "Ficou Maria Henriqueta livre por se ver livre do suborno da mãe" (Camilo Castelo Branco); f) "Senhor, morro por unir-me convosco" (Padre Manuel Bernardes); g) "Gastei pouco tempo em dizer-lhe..." (Machado de Assis); h) "... não faltaria Deus em lhe dar um bom dia" (Padre Antônio Vieira).

5) Eduardo Carlos Pereira, por sua vez, observa que, "junto aos infinitivos puros, em geral, e aos regidos da preposição a", a regra de posicionamento do pronome oblíquo átono é a ênclise (pronome após o verbo): a) "Foi bom dizer-lhe toda a verdade" (infinitivo puro); b) "Ele estava acostumado a sofrê-la todos os dias" (infinitivo regido pela preposição a).

6) Justifica tal gramático que tal generalização da ênclise se deu pela "necessidade de evitar o hiato, provocado às vezes pela próclise", como, por exemplo, em "acostumado a a sofrer" (por acostumado a sofrê-la).

7) Resumindo o que antes se expôs, de modo específico para a dúvida trazida pela leitora, a conclusão que se pode extrair é a de que, com o infinitivo preposicionado, o pronome pessoal oblíquo átono pode vir, indiferentemente, antes ou depois do verbo. Exs.: a) "Antes de me manifestar, quero respirar um pouco" (correto); b) "Antes de manifestar-me, quero respirar um pouco" (correto).

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.