Gramatigalhas

Marcha ré ou marcha à ré?

A leitora Cleide Santos de Santana Pereira envia-nos a seguinte mensagem: "Li há pouco, em Migalhas 1.308 (7/12/05), informação acerca da desaceleração da economia. Todavia o que mais me chamou a atenção não foi a matéria, mas sim seu título: 'Marcha Ré'. Não seria marcha a ré? Acho que essa questão é uma tarefa para o super Dr. José Maria da Costa. Um grande abraço a todos, inclusive ao amado Diretor."

23/8/2006

A leitora Cleide Santos de Santana Pereira envia-nos a seguinte mensagem:

"Li há pouco, em Migalhas 1.308 (7/12/05), informação acerca da desaceleração da economia. Todavia o que mais me chamou a atenção não foi a matéria, mas sim seu título: 'Marcha Ré'. Não seria marcha a ré? Acho que essa questão é uma tarefa para o super Dr. José Maria da Costa. Um grande abraço a todos, inclusive ao amado Diretor."

1) Os diversos ritmos de aceleração dos veículos automotores se denominam marchas, que podem desenvolver-se para frente ou para trás.

2) Uma primeira marcha à frente serve para tirar o veículo da situação de inércia e fazê-lo andar. Por sua finalidade e natureza, tem mais força e menos velocidade. A situação vai-se invertendo, de modo que, por exemplo, uma quinta marcha à frente tem pouca força e muita velocidade, e serve para quando o veículo já se encontra em movimento acelerado.

3) Para as marchas à frente, costuma-se apenas dizer primeira marcha, segunda marcha, terceira marcha, já que são várias que indicam o movimento do veículo para frente.

4) Para indicar o movimento que faz o veículo para trás, todavia, ao contrário de uma marcha à frente, diz-se marcha à ré, derivando o vocábulo bem possivelmente do latim retro, que significa para trás. É conhecida, aliás, mesmo entre os leigos, a expressão latina "vade retro", que significa "arreda-te!", "retira-te", "afasta-te", endereçada normalmente a Satanás.

5) Feitas essas considerações e ingressando no âmbito específico da consulta, assim como se diz marcha à frente, e não marcha frente, e assim como se diria marcha para trás e não marcha trás (sempre, portanto, com o emprego de preposição), também se há de dizer e escrever marcha à ré, e não marcha ré, expressão que, além da preposição, tem o artigo feminino, daí se originando o acento indicativo da crase.

6) Quanto à indagação feita, assim, a razão está com a atenta leitora, que fisgou o equívoco de redação do nosso querido Migalhas no título da referida matéria: marcha à ré, e não marcha ré.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.