Gramatigalhas

Crase e palavras ocultas

Crase e palavras ocultas. Veja a explicação do professor José Maria da Costa

1/8/2018

O leitor Ricardo Pereira envia a seguinte mensagem para a seção Gramatigalhas:

"Minha dúvida é sobre a utilização da crase na seguinte frase: a) 'A sua prova é curiosamente igual à do aluno Roberto' ou b) 'A sua prova é curiosamente igual a do aluno Roberto'. No sentido de: c) 'A sua prova é curiosamente igual à prova do aluno Roberto'. Suprimindo a segunda palavra 'prova' nas frases ‘a' e 'b', o acento crase permanece ou não?"

1) Um leitor parte do seguinte exemplo, que reputa correto: "A sua prova é curiosamente igual à prova do aluno Roberto". Sua dúvida é se a crase continua, quando se suprime a segunda palavra prova nas seguintes frases: a) "A sua prova é curiosamente igual à do aluno Roberto"; ou b) "A sua prova é curiosamente igual a do aluno Roberto"?

2) Uma observação técnica de grande importância: a) quando a palavra prova vem expressa, se houver crase, ela significará a fusão de uma preposição a e de um artigo a; b) quando, porém, se omite a palavra prova, se houver a referida fusão, será ela entre uma preposição e uma palavra que tomou o lugar de um nome, a saber, um pronome.

3) Como tal explicação teórica não muda em nada a questão prática que está sendo dirimida, importa lembrar que a primeira, geral e importante regra de crase para nomes comuns do feminino manda substituir, no raciocínio com o caso concreto, o nome feminino, antes do qual se quer saber se existe ou não a crase, por um correspondente masculino (não necessariamente um sinônimo, mas um vocábulo que mantenha a mesma estrutura sintática).

4) E se, com a substituição, aparece ao no masculino, então há crase no feminino; se não aparece ao no masculino, não há crase no feminino.

5) Veja-se o raciocínio que o próprio consulente deve ter seguido com o exemplo, quando aparece o vocábulo prova: a) "A sua prova é curiosamente igual à prova do aluno Roberto" (feminino); b) "O seu exame é curiosamente igual ao exame do aluno Roberto" (masculino).

6) Com essas considerações como premissas, passa-se a raciocinar com o exemplo em que o leitor suprimiu o vocábulo prova: a) tal palavra foi suprimida na frase, mas ela continua claramente existindo na mente e no raciocínio do leitor; b) se o leitor estivesse pensando não no primeiro, mas no segundo exemplo, a frase dele, sem dificuldade alguma, seria "O seu exame é curiosamente igual ao do aluno Roberto"; c) a regra não muda, e, assim, se, no masculino aparece ao, a crase é de rigor no feminino, esteja oculta ou aparente a palavra que deve ser levada em consideração; d) o correto, então, no caso da consulta, é "A sua prova é curiosamente igual à do aluno Roberto".

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.