Gramatigalhas

Obrigado – Meu muito obrigada?

Obrigado – Meu muito obrigada? O professor esclarece o termo.

13/12/2017

O leitor Jamir Calili Ribeiro envia a seguinte dúvida ao Gramatigalhas:

"Na língua portuguesa, a gratidão é expressa através da palavra 'obrigado' ou 'muito obrigado', se quisermos mostrar nossos verdadeiros agradecimentos. Pelo que aprendi, tal expressão varia com o gênero. Mas, ao ver o convite de formatura em Direito da minha prima me deparei com a seguinte frase: A todos aqueles me ajudaram nessa trajetória, deixo o meu muito obrigada'. Nessa situação fiquei com as seguintes dúvidas: (a) seria correto, por uma questão de costume, uma mulher utilizar a expressão 'muito obrigado', ou seja, no masculino?; (b) no caso em que o 'muito obrigado' se substantiva (se é que é correto assim me expressar), não seria mais adequado que fosse utilizado no gênero masculino, tendo em vista a utilização do pronome possessivo masculino? Seria possível a utilização de 'minha muito obrigada'"?

1) Um leitor reconhece saber que a palavra obrigado, precedida ou não de muito, varia de acordo com a pessoa que fala. Mas, num caso prático, teve dúvidas para definir se estava correto o emprego de tal vocábulo, quando substantivado e falado por pessoa do sexo feminino: "A todos aqueles me ajudaram nessa trajetória, deixo o meu muito obrigada"?

2) Para se entender a concordância, importante é atentar no sentido da expressão: a pessoa a quem se presta um favor, ao agradecer, diz que se sente obrigada a retribuí-lo.

3) Bem por isso, não importa a quem é manifestado o agradecimento; o que efetivamente interessa é a pessoa que o manifesta, pois é com ela que tal palavra concorda: assim, se é um homem que fala, diz ele obrigado; se é mulher, obrigada; se vários são os homens, expressando-se, por exemplo, num discurso, por meio de orador, diz-se obrigados; se várias as mulheres, obrigadas.

4) Para resumir, precisa é a lição de Silveira Bueno, que sintetiza os aspectos significativos do emprego de tal vocábulo: "A expressão de agradecimento muito obrigado não passa de uma oração abreviada: Eu lhe estou muito obrigado pelo favor que me fez – ou qualquer outra semelhante. Como se vê, obrigado é adjetivo que está qualificando o sujeito da oração. Ora, sabemos que todos os adjetivos concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem. Logo, se o sujeito for masculino, dirá: muito obrigado. Mas se for feminino, há de dizer: muito obrigada".

5) Acrescente-se a lição de Júlio Nogueira quanto ao equívoco normalmente cometido com tal vocábulo: "É incorreção peculiar ao belo sexo. Uma senhora não deve dizer, como forma de agradecimento: Obrigado!, mas obrigada! Nenhuma diria: Eu fico obrigado. Assim: Obrigada! ou Obrigadas, se há mais de uma".

6) A uma leitora de nome Adelaide – cuja esclarecida amiga teimava em dizer muito obrigado – que lhe indagava se não seria melhor que tal dama dissesse obrigada, assim respondia Cândido de Figueiredo: "Não só é melhor, é o que é, se a tal amiga de Adelaide é realmente do sexo feminino".

7) Como não é difícil perceber, não sofre alteração alguma o quanto até agora dito, se o vocábulo obrigado vem precedido pelo advérbio muito: a) "Muito obrigado pelo favor que me fez – disse o rapaz"; b) "Muito obrigada pelo favor que me fez – disse a moça"; c) "Muito obrigados pelo favor que nos fizeram – disseram os rapazes"; d) "Muito obrigadas pelo favor que nos fizeram – disseram as moças".

8) Com respeito à indagação específica do leitor, entretanto, traz-se ensino claro, simples e taxativo de Napoleão Mendes de Almeida: "Quanto substantivada a expressão, aparece sempre o masculino". Exs.: a) "A todos os que me ajudaram deixo o meu muito obrigado, disse o rapaz"; b) "A todos os que me ajudaram deixo o meu muito obrigado, disse a moça"; c) "A todos os que nos ajudaram deixamos o nosso muito obrigado, disseram os rapazes"; d) "A todos os que nos ajudaram deixamos o nosso muito obrigado, disseram as moças".

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.