Gramatigalhas

A egrégia ou À egrégia?

A egrégia ou À egrégia? O Professor explica a diferença.

11/10/2017

O leitor Milton Barbosa Moia envia a seguinte mensagem para a seção Gramatigalhas:

"Dr. José Maria da Costa: houve uma dúvida em meu trabalho. Usa-se ou não crase nas seguintes frases: 'Oficie-se a Egrégia 4a. Vara' e 'Oficie-se a Meritíssima Juíza'. Indaguei a meu chefe se 'egrégia' e 'meritíssima' eram ou não pronomes de tratamento, quando ele me disse que eram adjetivos. Procurei no dicionário e verifiquei que eram adjetivos. Porém, em uma pesquisa na internet, encontrei também como pronomes de tratamento. Portanto, dúvida. Agradeço desde já."

1) Um leitor diz ter dúvida sobre a existência ou não de crase nos seguintes exemplos: a) "Oficie-se a/à Egrégia 4ª. Vara"; b) "Oficie-se a/à Meritíssima Juíza". Não soube determinar se, no caso, há ou não pronome de tratamento. Encontrou-os como adjetivos em dicionários; mas também localizou definições como pronomes de tratamento na internet.

2) Num primeiro aspecto, costuma-se dizer que não há crase antes de pronomes de tratamento, e isso é verdade. Todavia os pronomes de tratamento são aqueles típicos, normalmente iniciados por vossa ou sua, como Vossa Senhoria, Vossa Excelência, Sua Senhoria, Sua Excelência. Exs.: a) "Dirijo-me a Vossa Senhoria com todo o respeito"; b) "O advogado dirigiu-se a Sua Excelência em seu gabinete".

3) Nas frases trazidas pelo leitor, entretanto, o que se tem são palavras indicativas de um tratamento respeitoso e até mesmo específicas para as pessoas às quais são dirigidas; mas, tecnicamente falando, são meros adjetivos e não constituem pronomes de tratamento em sua forma típica, que venham a ser capazes de vedar o emprego da crase.

4) Feitas essas ponderações como premissas, tem lugar, no caso, a primeira, geral e importante regra de crase, que manda substituir, no raciocínio prático, o nome feminino, antes do qual se quer saber se existe ou não a crase, por um correspondente do masculino (não necessariamente um sinônimo, mas um vocábulo que mantenha a mesma estrutura sintática).

5) E se, com a substituição, aparece ao no masculino, então há crase no feminino; se não aparece ao, não há crase no feminino.

6) Veja-se como ficam os exemplos com a substituição, nos casos trazidos pelo leitor: a) "Oficie-se a Egrégia 4ª. Vara" (feminino); b) "Oficie-se ao Egrégio 4º Cartório" (masculino); c) "Oficie-se a Meritíssima Juíza" (feminino); d) "Oficie-se ao Meritíssimo Juízo" (masculino).

7) Ou seja: a) com a substituição por um correspondente masculino, apareceu ao em ambos os casos; b) então há crase no feminino em ambas as frases; c) "Oficie-se a Egrégia 4ª. Vara" (errado); d) "Oficie-se à Egrégia 4ª. Vara" (correto); e) "Oficie-se a Meritíssima Juíza" (errado); f) "Oficie-se à Meritíssima Juíza" (correto).

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.