Gramatigalhas

Padecer de verossimilhança – é correto?

Padecer de verossimilhança – é correto? O Professor esclarece a dúvida.

19/7/2017

A leitora Laura Aguiar envia a seguinte dúvida ao Gramatigalhas:

"Recentemente, vi em um texto jurídico (não sou advogada) a expressão 'padecer de verossimilhança', que me pareceu equivocada e ilógica. Uma acusação falsa padece, ou sofre, de inverossimilhança. Ou carece de verossimilhança. Mas numa pesquisa rápida, constatei que a expressão é largamente usada no meio jurídico. Gostaria de entender por quê."

1) Uma leitora, depois de encontrar mais de uma vez empregada, no meio jurídico, a expressão padecer de verossimilhança para significar que algo não tem aparência de verdadeiro, indaga se é correta e por quê.

2) Uma busca ao dicionário revela que verossímil ou verossimilhante é a qualidade positiva de algo semelhante à verdade, que parece verdadeiro, que é provável por não contrariar a verdade.

3) Por outro lado, o verbo padecer, com acepção negativa, quer dizer sofrer, ser afligido ou ser atormentado por alguma coisa.

4) Só com essas explicações já se vê que alguma coisa, no aspecto positivo, detém verossimilhança e, assim, é verossimilhante, quando aparenta traços de verdade; ou, no aspecto negativo, padece de inverossimilhança, ou é inverossimilhante, quando não traz aparência de elementos verdadeiros, nem é provável, por contrariar a verdade.

5) Pelo próprio conteúdo semântico dos vocábulos analisados, vê-se que, quando se quer dizer que algo não tem aparência de verdadeiro, então carece de verossimilhança, ou padece de inverossimilhança, ou mesmo padece de falta de verossimilhança. Mas não parece adequado e apropriado falar em padecer de verossimilhança para significar exatamente ser verossimilhante, vale dizer, num sentido positivo.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.