Gramatigalhas

Delistar – Existe?

Delistar – Existe? O Professor esclarece a questão.

21/6/2017

O leitor Anderson Rocha envia a seguinte dúvida ao Gramatigalhas:

"Prezado professor José Maria da Costa: é muito comum, no ambiente empresarial, o uso da palavra 'delistar', no sentido de 'excluir', vale dizer, 'o chefe foi delistado do sorteio', 'a empresa foi delistada da Bolsa de Valores', 'o fornecedor foi delistado do nosso cadastro', e por aí afora. Pergunto-lhe: o verbo delistar existe? Se sim, seu emprego está correto?"

1) Um leitor indaga se existe em nosso idioma o vocábulo delistar e observa que ele é de uso comum no ambiente empresarial, quando se quer indicar o sentido de excluir, como em "O fornecedor foi delistado do cadastro", "O chefe foi delistado do sorteio" e "A empresa foi delistada da Bolsa de Valores".

2) Ora, quando se quer saber se uma palavra existe ou não em português, deve-se tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos pertencentes ao nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras.

3) E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.

4) Uma simples consulta ao VOLP, contudo, mostra que nele não se registra o verbo delistar, de modo que a forçosa conclusão é que essa palavra não existe em nosso léxico e seu emprego não encontra guarida nas regras que norteiam o uso da norma culta.

5) Em tais circunstâncias, se se quer usar um verbo com esse significado, a solução é escolher um sinônimo entre as diversas palavras com essa acepção em português: eliminar, expulsar, retirar. Ou, ainda, lançar mão de um circunlóquio com o mesmo sentido, como excluir da lista, por exemplo.

6) Empregar, porém, vocábulo inexistente, a pretexto de neologismo, não constitui alternativa válida, que esteja ao alcance do usuário do idioma.

7) Parece oportuno observar, a esta altura, que, sobretudo nos meios jurídicos e forenses, há uma equivocada tendência de alguns, com pretensão de uma jamais alcançada erudição, para empregar vocábulos arrevesados e barrocos, mas inexistentes, como esse que agora é trazido para análise.

8) O máximo que conseguem, todavia, é um texto de difícil leitura e compreensão, muito distante do ideal que só a simplicidade objetiva consegue alcançar.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.