Gramatigalhas

Protagonismo – Existe?

Protagonismo – Existe? O Professor esclarece a questão.

8/2/2017

O leitor Sinésio de Souza envia a seguinte dúvida ao Gramatigalhas:

"Prezado professor José Maria da Costa: de uns tempos para cá, é muito comum ouvir na mídia a palavra 'protagonismo'. Ela existe? Em caso positivo, qual é o seu sentido?"

1) Um leitor indaga se existe em nosso idioma o vocábulo protagonismo, que ele tem ouvido com frequência nos meios de comunicação. E indaga, em caso positivo, qual é o seu significado.

2) Ora, em raciocínio que se deve repetir sempre, até para criar no leitor o hábito salutar de pensar de modo metódico sobre o assunto, quando se quer saber se uma palavra existe ou não em português, deve-se tomar por premissa o fato de que a autoridade para listar oficialmente os vocábulos pertencentes ao nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras.

3) E essa autoridade, a ABL a exerce por via da edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.

4) Ora, uma simples consulta ao VOLP mostra que nele se registra, sim, o vocábulo protagonismo, de modo que a forçosa conclusão é que ele efetivamente existe em nosso léxico, e seu emprego está integralmente autorizado ao usuário do idioma.

5) O significado desse vocábulo é de atuação como protagonista, vale dizer, como ator ou personagem principal. Ex.: "Enfim, o Ministro da Justiça assumiu o protagonismo naquele caso, como, aliás, deveria ter feito desde o início".

6) Dada a resposta específica ao leitor, acrescenta-se uma primeira observação: é certo que nem Aurélio Buarque de Holanda Ferreira nem Antônio Houaiss registram tal palavra em seus conhecidos dicionários. Ante esse fato, importa anotar que não se põe em dúvida o elevado valor da contribuição dos dicionaristas para o apuro da língua portuguesa; mas, com todo o respeito devido, o certo é que eles não são a autoridade no assunto. Isso significa que, em caso de divergência entre eles e o VOLP quanto à existência ou algum outro aspecto de um vocábulo, deve-se ficar com este último, que é a palavra da autoridade oficial na matéria.

7) E se ultima com uma segunda ponderação: o fato de se constatar, atualmente, um real abuso no emprego do vocábulo ora comentado, capaz de aconselhar moderação em seu uso, não é motivo para sua condenação, como se fosse um equívoco. Já os latinos diziam que o abuso não pode impedir o uso ("abusus non tollit usum"), e o provérbio se aplica ao caso com perfeição.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.