A leitora Georgia Queirós envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:
"A frase 'Nunca jamais houve defensor da liberdade como este.' está correta? A repetição de palavras com o mesmo significado não é considerada um equívoco? Obrigada."
1) Trata-se de expressão enfática, de sentido evidentemente negativo, a qual, sinônima de jamais nunca, apesar da duplicidade e repetição de significado, é aprovada pelos gramáticos e encontrada com frequência nos melhores escritores: Bernardes, Vieira, Camilo Castelo Branco, Castilho, Machado de Assis e Rui Barbosa. Exs.:
a) "Nunca jamais houve defensor da liberdade como este";
b) "Jamais nunca houve defensor da liberdade como este".
2) Eduardo Carlos Pereira vê em tal expressão "uma negativa reforçada ou intensiva ainda vigente".
3) Aires da Mata Machado Filho coleciona, nos melhores autores, variadas formas similares de dupla negativa: "nunca por nunca" (Camilo Castelo Branco), "nunca em tempo algum" (idem), "nunca dos nuncas" (Gil Vicente), "nem tu não hás de vir" (idem).
4) Como se viu, costuma também aparecer na forma invertida jamais nunca.
5) Cândido de Figueiredo, para quem tal expressão é um advérbio composto, de emprego normal, traz a corroboração de exemplo do Padre Manuel Bernardes:
"Nunca jamais me glorie em coisa alguma...".
6) Mesmo sem comentários específicos, José de Sá Nunes acata o emprego dessa expressão, como se verifica na seguinte passagem de sua própria lavra: "Esta é que é a sintaxe que me parece mais segura, porque desde Morais até Figueiredo o vocábulo 'mister' nunca jamais deixou de ter o significado de 'necessidade', 'precisão', 'urgência'...".
7) Heráclito Graça defende a correção de tal sintaxe e anota que a empregaram Frei Luís de Sousa, Padre Antônio Vieira e Antônio Feliciano de Castilho.
8) Justificando o emprego optativo de nunca jamais e de jamais nunca, Carlos Góis leciona que, "quando um advérbio vem modificado por outro, pode ocorrer, mui raramente, a colocação indiferente de um em relação a outro: ... Nunca jamais me apareças; ou Não me apareças jamais nunca...".
9) Nos dizeres de Domingos Paschoal Cegalla, "não é redundância censurável, mas uma negativa enfática, frequente em escritores clássicos".
10) Para Luís A. P. Vitória, trata-se de "expressão pleonástica justificada pela ênfase".
11) Ante a uniforme aceitação por parte dos gramáticos, vê-se que está plenamente autorizado o emprego de tal expressão nos textos que devam submeter-se as regras da norma culta.