Gramatigalhas

Anos vinte ou Anos vintes?

Anos vinte ou Anos vintes? O Professor esclarece a dúvida.

17/2/2016

A leitora Barbara L. Rezende envia a seguinte mensagem ao autor de Gramatigalhas:

"Gostaria da explicação do professor José Maria para expressões como 'anos vinte'. O correto é 'anos vinte' ou 'anos vintes’? Obrigada."

1) Josué Machado anota que, na substantivação, não há motivo para abandonar os numerais sem flexão para o plural. Exs.:

a) "As eleições dos anos noventas serão diferentes com as urnas eletrônicas";

b) "Os ladrões do Congresso transformavam cincos em cinquentas";

c) "Os noves do baralho foram marcados".

2) Excepciona tal autor, porém, que "só não se flexionam em número os numerais cardinais terminados em s (dois, três, seis, dezesseis), em z (dez) e mil"; não é, todavia, por exceção, que não se flexionam tais palavras em número, mas que, por exemplo, ao menos as primeiras, à semelhança de outros substantivos terminados por s, como pires e ônibus, têm a mesma forma no singular e no plural.

3) De Vitório Bergo também é a lição de que as palavras substantivadas seguem geralmente as regras normais de flexão para o plural, segundo a sua terminação, como é o caso de os noves.

4) Para Domingos Paschoal Cegalla, por um lado, "numerais substantivados terminados por fonema vocálico formam o plural como os substantivos: dois uns, quatro setes, prova dos noves fora, dois cens"; por outro lado, ficam invariáveis os que finalizam por fonema consonantal: "No teste, João tirou quatro seis e dois dez".

5) Bem por isso, de modo específico para o caso, há de se dizer anos vintes, e não anos vinte, como tem sido de corriqueira audiência.

6) É bastante comum encontrar equívocos dessa natureza em textos jurídicos e forenses, como se pode comprovar pelo seguinte excerto de aresto de um de nossos tribunais superiores: "A Constituição republicana dos oitenta deu um novo passo no que concerne à organização familiar". Corrija-se: "A Constituição republicana dos oitentas deu um novo passo no que concerne à organização familiar".

 

 

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.