Gramatigalhas

Quer... quer... quer...

Quer... quer... quer... Professor esclarece o emprego de "quer" por mais de duas vezes.

18/2/2015

O leitor Humberto Andrade envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:

"Parabenizo o Professor José Maria da Costa por esta valorosa coluna Gramatigalhas e aproveito para pedir uma explicação sobre a possibilidade de empregar a palavra 'quer' por mais de duas vezes em uma mesma frase. Está correto este uso?"

1) Nada impede que se empregue quer por mais de duas vezes, desde que três ou mais blocos hajam de ser comparados em alternativa, tal como aparece no art. 1.368 do Código Civil de 1916: "É universal a sociedade, quer abranja todos os bens presentes, ou todos os futuros, quer uns e outros na sua totalidade, quer somente a dos seus frutos e rendimentos".

2) Quanto ao emprego de outras palavras de função similar, de Luciano Correia da Silva vem a seguinte lição: "A alternativa ou pode estar uma vez só ou várias vezes numa frase ou período: 'Decifra-me ou devoro-te'; 'Um advogado se distingue, ou pela competência, ou pela dedicação, ou, o que é melhor, por essas duas qualidades juntas'. Quer e já funcionam sempre repetidas, combinadas com ou, ou várias vezes... conforme os exemplos: 'Já falando, já escrevendo, o advogado precisa respeitar a gramática'; 'Quer falando, ou escrevendo, o advogado precisa respeitar a gramática'" (1991, p. 144).

3) Interessante é anotar, todavia, em objeção ao ensino do mestre por último citado, que, da observação dos textos submetidos à norma culta, o que comumente se vê é a obediência à lição de Sousa e Silva, para quem, se se emprega a conjunção quer no primeiro membro disjuntivo, deve-se repeti-la no segundo: "... quer corram, quer andem devagar" (1958, p. 248).

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SILVA, A. M. de Sousa e. Dificuldades Sintáticas e Flexionais. Rio de Janeiro: Organização Simões Editora, 1958.

SILVA, Luciano Correia da. Manual de Linguagem Forense. São Paulo: Edipro, 1991.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.