Gramatigalhas

O que ele quis é poupar...

O que ele quis é poupar... - Como utilizar a expressão corretamente? O Professor José Maria da Costa responde.

22/2/2006

O leitor Rafael Pimenta envia ao Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Prezados, indago se gramaticalmente é correta a afirmação, consignada no Migalhas 1.118: "Em verdade, Migalhas quis é poupar os leitores de mais essa". O verbo ser também não teria que estar no passado? Um forte abraço."

1) Em nosso idioma, existem normas de correlação, de correspondência temporal ou, ainda, de consecução dos tempos verbais, que determinam a harmonização quanto ao uso dos tempos dos verbos.

2) De modo mais prático, isso significa que o uso de um primeiro verbo exige que o segundo verbo vá para um determinado tempo. Vejam-se os seguintes exemplos:

a) "Se é clara, a lei dispensa interpretação";

b) "Se for clara, a lei dispensará interpretação;

c) "Se fosse clara, a lei dispensaria interpretação".

3) Muitas vezes, nos dias de hoje, perde-se de vista esse paralelismo das formas verbais e se redige: "dias que não se trabalhava"; "Ela estava casada dois meses". Corrija-se:

a) "dias que não se trabalha";

b) "Havia dias que não se trabalhava";

c) "Ela está casada dois meses";

d) "Ela estava casada havia dois meses".

4) Como ensinam os gramáticos, a falta de simultaneidade de tempos nessas proposições configura verdadeiro galicismo (estrutura do idioma francês não aceita em nossa língua), como nos seguintes exemplos:

a) "É isso que me incomodou" (errado);

b) "Foi isso que me incomodou" (correto);

c) "É Jesus quem dizia..." (errado);

d) “Foi Jesus quem dizia...” (correto).

5) De modo específico para o caso da consulta, não se diga "O que ele quis é poupar...", mas "O que ele quis foi poupar..."

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.