O leitor André Graeff Riczaneck, que se define um "Operador do Direito (entre eles o de IR e VIR)", envia-nos a seguinte mensagem:
"A propósito da migalha 'Uma conjunção no meio do caminho', sobre a pólvora havida pela revista Veja (Migalhas 1.196 - 27/6/05 – '...a revista Veja iria vir com tudo...'), a construção correta não deveria conjugar o verbo 'vir' no futuro do pretérito: 'viria', ao invés de 'iria vir'? Um abraço!"
1) Em expressões como vai indo, vem vindo, há indiscutível cunho pleonástico; são, porém, ambas formas corretas, e podem ser empregadas normalmente no vernáculo.
2) Veja-se, nessa esteira, o exemplo de Camilo Castelo Branco: "Parece-me que são horas de vir vindo o jantar".
3) Em realidade, trata-se de caso em que o verbo vir acaba sendo auxiliar de si próprio, em construção perfeita e correta, como também demonstra o seguinte exemplo de Machado de Assis: "Vieram vindo depois os bravos, os apoiados, os não-apoiados, uma bonita agitação".
4) No caso da consulta, todavia, o exemplo é "A revista Veja iria vir com tudo...", em que não há, em realidade, a idéia de pleonasmo, ou seja, de verbos que se repetem quanto ao sentido: nem é ir indo, nem é vir vindo.
5) A questão, assim, não diz respeito a pleonasmo, de modo que se há de buscar o enquadramento em outro aspecto de emprego da língua.
6) Em verdade, a exemplo de alguns outros verbos, vir é empregado com freqüência como verdadeiro auxiliar em expressões de larga utilização:
a) "Ela vai trazer novidades";
b) "Ela vai voltar ao lugar de origem";
c) "Ela vai ficar onde está".
7) Tal uso não apenas se dá no presente do indicativo, mas seria perfeitamente aceitável no futuro do pretérito:
a) "Ela iria trazer novidades";
b) "Ela iria voltar ao lugar de origem";
c) "Ela iria ficar onde estava".
8) Diante disso, não parece haver possibilidade de condenar o emprego do nosso querido Migalhas: "A revista Veja iria vir com tudo...".
9) Apenas se acrescente que estaria igualmente correta a seguinte frase: "A revista Veja viria com tudo..."