O leitor Victor Andrade envia a seguinte mensagem ao autor de Gramatigalhas:
"Professor, a frase 'O juiz falou com nós' está correta? O correto não seria 'O juiz falou conosco'?"
1) Precedidos da preposição com, os pronomes nós e vós formam conosco e convosco.
2) Permanecem, contudo, as formas com nós e com vós, se tais pronomes vêm seguidos de outros, todos, mesmos, próprios ou oração adjetiva. Exs.: a) "O juiz falou com nós" (errado); b) "O juiz falou conosco" (correto); c) "O juiz falou com nós todos" (correto); d) "Ele não falou justamente com nós, que lhe demos tanto apoio" (correto).
3) A tal lista de palavras que não deixam o pronome submeter-se à aglutinação, Júlio Nogueira acrescenta ambos: com nós ambos, e não conosco ambos.
4) Esses vocábulos que acarretam a mencionada aglutinação são denominados por Luiz Antônio Sacconi "palavras reforçativas".
5) Atente-se à síntese de Antenor Nascentes: "Embora regidos da preposição com os pronomes nós e vós assumam as formas nosco, vosco, deixam de assumi-las quando modificadas por todos, outros, mesmos, próprios, ambos. Assim dir-se-á: com nós mesmos, com vós todos etc.".
6) Para Domingos Paschoal Cegalla, "diz-se com nós quando esse pronome vem seguido de palavra reforçativa ou de numeral". Exs.: a) "Terá de entender-se com nós mesmos"; b) "Preocupamo-nos mais com ele do que com nós próprios"; c) "Discutia e brigava com nós todos"; d) "Ele saiu com nós duas".
7) Para Edmundo Dantès Nascimento, "não se empregam por eufonia as formas conosco e convosco seguidas de mesmo ou próprio".
8) Também é oportuno citar a lição de Vitório Bergo no sentido de que, "não só por uma questão de eufonia, senão também, ao que parece, pela conveniência de assinalar a utonomia do pronome vós, confundido na forma composta, prefere-se a combinação com vós quando vem ele modificado por adjetivo". Excepciona, contudo, tal gramático: "há também exemplos, embora raros, daquela reminiscência do ablativo latino seguida de determinativo", alinhando exemplos, que realça serem raros, de abalizados autores: a) "Queria ver-vos mais generoso convosco mesmo" (Camilo Castelo Branco); b) "E, se o valor de vossos amadores houver de ser igual convosco mesma..." (Camões).
9) Assim também para Silveira Bueno: "Não há erro algum em dizer... conosco mesmos, conosco próprios, expressões tão corretas quanto com nós mesmos, com nós próprios. É, porém, mais eufônica a separação: com nós mesmos, com nós próprios. Note bem: ambas as maneiras são corretas; esta última é apenas mais harmoniosa".
10) Também após ensinar, por um lado, que "os pronomes pessoais oblíquos, quando regidos pela preposição com, assumem as formas comigo, contigo, consigo, conosco, convosco", o gramático Sílvio Elia complementa, por outro lado, que, "modificados por atributo ou oração relativa,... decompõem-se conosco e convosco em com nós e com vós". Em seguida, entretanto, invocando lição de Sousa da Silveira, realça ele que "tal regra não é absoluta, pois, em tais casos, também se encontra o emprego de conosco e convosco, inclusive em Camões".
11) Ante a divergência entre os estudiosos, fica-nos a liberdade de empregar, em tais casos, a forma aglutinada (conosco e convosco) ou a forma analítica (com nós e com vós).
12) Sob outro aspecto, em interessante observação, adverte Sousa e Silva que "as formas comigo, contigo e consigo não se decompõem nunca": comigo mesmo, contigo mesmo, consigo mesmo.