Gramatigalhas

Pego (ê) ou pego (é)

Pego (ê) ou pego (é)? O Professor esclarece a dúvida.

20/8/2014

O leitor João Márcio de Castro envia a seguinte indagação ao Gramatigalhas:
 
 

"Tenho ouvido com certa frequência uma pronúncia que me tem causado estranheza. Afinal, a pronúncia do particípio passado do verbo pegar tem timbre fechado ou aberto? Pego (ê) ou pego (é)? De modo mais claro, qual das seguintes pronúncias é correta (i) "O assaltante foi pego (ê) pela polícia"; ou (ii) "O assaltante foi pego (é) pela polícia"?

1. Um leitor indaga se a pronúncia do particípio passado do verbo pegar tem timbre fechado ou aberto: pego (ê) ou pego (é). Como nos exemplos a seguir: (i) "O assaltante foi pego (ê) pela polícia"?; ou (ii) "O assaltante foi pego (é) pela polícia"?

2. Diga-se, desde logo, para não haver dúvidas: a pronúncia aberta do verbo pegar (pégo), no particípio passado, é um modismo que, em época mais recente, vem-se alastrando entre os usuários do idioma, e isso por significativa influência do rádio e da televisão; mas essa pronúncia não encontra respaldo algum nas regras de ortoepia do vernáculo, nem entre os estudiosos do assunto, que são unânimes em apoiar a forma fechada.

3. É certo, por um lado, que o verbo pegar tem pronúncia aberta no presente do indicativo: eu pego (é), tu pegas (é), ele pega (é)...

4. No particípio passado, porém, é consenso entre os estudiosos do idioma que a pronúncia deve ter timbre fechado.

5. Domingos Paschoal Cegalla assim resume essa questão do particípio passado: "A pronúncia correta é pêgo. Pego, com a vogal e aberta, é forma do verbo pegar (eu pego)".1

6. Porque ao tempo de edição de sua obra já não mais havia, na escrita, o acento diferencial de timbre sobre vocábulos dessa natureza, Napoleão Mendes de Almeida fazia questão de trazer entre parênteses a grafia sempre fechada desse particípio passado.2

7. Mesmo antes da reforma ortográfica trazida pela lei 5.765, de 18/12/71, que extinguiu o acento diferencial de timbre, Silveira Bueno, sem ver necessidade de quaisquer outras discussões, registrava, tão só e exclusivamente, a forma com timbre fechado – pêgo3 – proceder esse que já havia manifestado em outra de suas obras.4

8. Esse também é o modo de pensar de Cândido de Oliveira.5

9. E, em preciosa obra acerca do estudo sobre a conjugação dos verbos, Otelo Reis foi mais longe e deu a forma pego (é) como criação errônea de cunho popular.6

10. Ante tais considerações, comparem-se as formas corretas e erradas de pronúncia de tal particípio passado nos seguintes exemplos: (i) "O assaltante foi pego (ê) pela polícia" (correta); ii) "O assaltante foi pego (é) pela polícia" (errada); iii) "Os assaltantes foram pegos (ê) pela polícia" (correta); (iv) "Os assaltantes foram pegos (é) pela polícia" (errada); (v) "A fugitiva foi pega (ê) pela polícia" (correta); vi) "A fugitiva foi pega (é) pela polícia" (errada); (vii) "As fugitivas foram pegas (ê) pela polícia" (correta); (viii) "As fugitivas foram pegas (é) pela polícia" (errada).

__________

1CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1999, p. 313.

2ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Dicionário de Questões Vernáculas. São Paulo: Editora Caminho Suave Ltda., 1981, p. 228-229.

3BUENO, Francisco da Silveira. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1968, p. 218.

4BUENO, Francisco da Silveira. Questões de Português. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 1957, p. 332.

5FIGUEIREDO, Cândido de. Revisão Gramatical. 10. ed. São Paulo: Editora Luzir, 1961, p. 207.

6REIS, Otelo. Breviário da Conjugação dos Verbos da Língua Portuguesa. 36. ed. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1976, p. 90.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.