A leitora Danielle Sousa envia a seguinte mensagem ao autor de Gramatigalhas:
"Professor, tenho dúvida sobre como usar gasto e gastado. Obrigada!"
1) Para Otelo Reis, quanto a seu particípio passado, o verbo gastar é usado só na forma irregular (gasto) com qualquer auxiliar, observando tal autor que "na linguagem hodierna já não se usa a forma regular". Exs.: a) "O réu tinha gasto o produto do crime"; b) "O produto do crime fora gasto pelo réu".
2) Nos dizeres de Édison de Oliveira, na linguagem contemporânea, "estão fora de uso as formas ganhado, gastado e pagado, não só com o auxiliar ser, mas também com o auxiliar ter", motivo por que "estão, pois, superadas construções como: a) 'Nós teríamos ganhado a partida'; b) 'Ele tinha gastado o tempo inutilmente'; c) 'Tínhamos pagado tudo o que devíamos'; devendo-se preferir: i) 'Nós teríamos ganho a partida'; ii) 'Ele tinha gasto o tempo inutilmente'; iii) 'Tínhamos pago tudo o que devíamos'".
3) A doutrina de Celso Cunha também merece transcrição: "De outrora se usavam normalmente os dois particípios. Na linguagem atual preferem-se, tanto nas construções com o auxiliar ser como naquelas em que entra o auxiliar ter, as formas irregulares ganho, gasto e pago, sendo que esta última substituiu completamente o antigo pagado".
4) Observa Edmundo Dantès Nascimento que o uso vem consagrando o particípio gasto tanto para o sentido ativo como para o passivo.
5) Para Sousa e Silva, o particípio gastado caiu em desuso, "empregando-se atualmente a forma gasto com qualquer auxiliar".
6) Também para Vitório Bergo, "os particípios fortes ganho, gasto, pago, salvo tendem a suplantar as formas em ado, pois que se usam normalmente com os dois tipos de auxiliares".
7) Para se resumir o entendimento até agora exposto, pode-se dizer que a tendência ao uso do verbo gastar na forma participial irregular, tanto na voz ativa quanto na passiva, é antiga, sendo raros os exemplos em contrário.
8) Em posicionamento contrário, todavia, tem-se, na lição de Eduardo Carlos Pereira, por um lado, que os particípios irregulares pago, ganho e gasto "podem empregar-se na voz ativa com os verbos ter e haver"; por outro lado, "muitas formas regulares", como, por exemplo, ganhado, gastado, "podem ser empregadas na passiva com os verbos ser e estar".
9) Evanildo Bechara também admite a coexistência de ambos os particípios passados.
10) Cândido Jucá Filho, sem quaisquer explicações adicionais, especifica indiferentemente os particípios gasto e gastado.
11) Aires da Mata Machado Filho, que, sem maiores explicações, emprega normalmente o particípio passado gastado no exemplo "Ele havia gastado o dinheiro", acaba por transcrever interessante lição de Antenor Nascentes: "Na língua viva atual, quer com o auxiliar ter, quer com ser, só se usam os particípios irregulares ganho, gasto e pago, dos verbos ganhar, gastar e pagar. Na língua antiga, o regular domina: Vintém poupado, vintém ganhado (nas antigas moedas de 40 réis)".
12) Anota Vitório Bergo que se encontra em bons autores o emprego do particípio passado regular, "precedido, segundo a regra geral, do auxiliar ter ou haver".
13) Para Cândido de Oliveira, "ganho, gasto, pago, pego são usados indiferentemente para ambas as vozes (com qualquer auxiliar)", e "os particípios ganhado, gastado, pagado, pegado tendem a desaparecer".
14) Para Domingos Paschoal Cegalla, "usa-se gastado com os auxiliares ter e haver"; já "com o auxiliar ser (voz passiva), usa-se gasto".
15) Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante consideram gastar um verbo abundante, sendo para tais autores perfeitamente possível o emprego do particípio passado regular (gastado), o qual deverá ser usado com os auxiliares ter e haver.
16) Ante a divergência entre os gramáticos, o que reflete a própria duplicidade de emprego pelos usuários da norma culta na atualidade, não parece haver razão alguma para se restringir o emprego de qualquer das formas, de modo que parecem perfeitamente aceitáveis o particípio passado regular (gastado) e o particípio passado irregular (gasto), devendo-se conferir ao primeiro o uso com os auxiliares ter e haver; ao segundo, deve-se destinar o emprego dos auxiliares ser e estar.