Gramatigalhas

Há dias (em) que não se trabalha

Há dias que ou Há dias em que? O Professor José Maria da Costa explica.

28/12/2005

No verbete Consecução dos Tempos Verbais, publicado no Migalhas 1.175 (25/5/05 - clique aqui) dava-se o seguinte exemplo:

"Há (havia) dias que não se trabalha (trabalhava)".

A leitora Marcela da Veiga enviou ao autor de Gramatigalhas a seguinte indagação :

"Não deveria ser: Há (havia) dias EM que não se trabalha (trabalhava) ?"

1) Por um lado, é preciso tomar cuidado para verificar se é obrigatório ou facultativo o emprego da preposição antes do pronome em casos como o da indagação; por outro lado, porém, importa verificar o real sentido que se quer conferir ao texto.

2) Tomem-se os seguintes exemplos:

a) "Há dias que não se trabalha";

b) "Há dias em que não se trabalha";

c) "Havia dias que não se trabalhava";

d) "Havia dias em que não se trabalhava".

3) O primeiro e o terceiro exemplos pertencem ao mesmo núcleo semântico, apenas com a alteração do tempo dos verbos. Seu significado pode ser apreendido com facilidade pela troca por verbo sinônimo: "Faz (fazia) dias que não se trabalha (trabalhava)".

4) O segundo e o quarto exemplos já pertencem a outro grupo semântico, o que se pode verificar com a modificação dos verbos: "Existem (existiam) dias nos quais não se trabalha (trabalhava)".

5) Em resumo: não se trata, no caso, de preposição facultativa, que possa ser retirada ao talante do usuário, nem de equívoco que tenha sido cometido na formulação do exemplo, mas de preposição cuja presença ou ausência trazem modificação do sentido do texto.

6) Para que não haja dúvida, todavia, é bom que se reafirme que todos os quatro exemplos acima referidos estão corretos. Apenas, como se viu, constituem dois blocos, cuja estrutura é ligeiramente diversa, conforme anotado.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.