A leitora Mariana de Jesus Lourenço envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:
"Dúvida: o 'd' mudo do vocábulo advogado, por exemplo, ou o 'p' de pneu sofreram modificação com a nova ortografia?! Ouvi comentários, que considerei absurdos. Daí, buscar esclarecimentos. Obrigada!"
1) Uma leitora traz a seguinte dúvida: "O d mudo do vocábulo advogado, por exemplo, ou o p de pneu sofreram modificação com o Acordo Ortográfico? Ouvi comentários, que considerei absurdos. Daí buscar esclarecimento".
2) Importa observar, de início, que o Acordo Ortográfico veio para eliminar consoantes inúteis, existentes na grafia mas não pronunciadas, e fixou como fator determinante para sua conservação ou eliminação as pronúncias cultas da língua.
3) E fixou alguns critérios para tanto: a) Em caso de uniformidade de pronúncia nos países signatários do Acordo, a grafia será única: ficção, apto, ato, Egito; b) Quando tal uniformidade não existe, admite-se dupla grafia: sector, setor; concepção, conceção; c) Nas sequências mpc, mpç e mpt, se o p for eliminado, a letra m passa a n: Assumpção, assunção; sumptuoso, suntuoso; d) Nas sequências bd, bt, gd, mn e tm, a primeira letra conserva-se ou elimina-se facultativamente, uma vez que na língua não existe uniformidade de pronúncia: súbdito, súdito; subtil, sutil; amígdala, amídala; amnistia, anistia; aritmética, arimética.
4) Em resumo, se o Acordo Ortográfico, no aspecto da consulta, veio para eliminar consoantes inúteis, existentes na grafia mas não pronunciadas, obviamente não atinge a grafia de vocábulos como advogado e pneu, em que as consoantes são pronunciadas de modo claro e distinto.
5) Assim, a grafia de tais vocábulos continua sendo exatamente advogado e pneu, como, aliás, facilmente se pode constatar pela última edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, que é o órgão que detém a delegação legal para listar oficialmente os vocábulos que pertencem ao vernáculo.1
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1 Cf. Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 5. ed., 2009. São Paulo: Global. p. 25 e 660.