Gramatigalhas

No que couber ou No que couberem?

No que couber ou No que couberem? O professor José Maria da Costa esclarece.

30/5/2012

O leitor Rogério de Melo Gonçalves, advogado em Brasília, envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:

"Professor, a dúvida é curta e direta - embora cause, em meu círculo de amigos e colegas de profissão, debates intermináveis: a expressão 'no que couber' é variável (isto é, existe a forma 'no que couberem')? Obrigado."

1) Um leitor traz uma dúvida que tem causado, em seu círculo de amigos e colegas de profissão, debates intermináveis: no que couber ou no que couberem?

2) Por questão de facilidade didática, são propostos dois exemplos em que aparece a expressão mencionada, com pequeno ajuste para explicitar melhor o problema (em vez de no, aparece naquilo):

a) "Esse princípio será aplicável naquilo que couber";

b) "Esses princípios serão aplicáveis naquilo que couber".

3) Nesses dois exemplos, verifica-se que o que é um pronome relativo, o que, na prática, se percebe, procedendo-se à sua substituição por o qual.

4) Ora, um pronome relativo começa uma segunda oração, de modo que as orações do primeiro exemplo são as seguintes:

a) "Esse princípio será aplicável naquilo" (oração principal);

b) "que couber" (oração subordinada adjetiva [um pronome relativo começa exatamente uma oração adjetiva]).

5) Ora, num exemplo como esse, chama-se ao que de pronome relativo por duas razões:

a) está ele em lugar de um nome anteriormente mencionado;

b) relaciona-se a esse nome quanto ao sentido e o representa sintaticamente na nova oração.

6) A partir dessas premissas, podem-se fazer as seguintes afirmativas no caso concreto:

a) O sentido do texto mostra que o antecedente do que – em cujo lugar ele está, com o qual se relaciona em sentido e ao qual representa sintaticamente na outra oração – é aquilo (veja-se: naquilo = em + aquilo);

b) Deixar no singular ou levar para o plural o verbo que vem após o que não depende do sujeito da oração anterior, mas apenas do antecedente do que, já que este é sujeito da segunda oração.

7) Confira-se, portanto, a correção dos exemplos da consulta:

a) "Esse princípio será aplicável naquilo que couber";

b) "Esses princípios serão aplicáveis naquilo que couber".

8) Para ilustração sobre a flexão de um verbo de segunda oração, quando nesta há um que que é sujeito, também se confiram os seguintes exemplos, todos corretos:

a) "O vigia não viu o ladrão que entrou";

b) "Os vigias não viram o ladrão que entrou";

c) "O vigia não viu os ladrões que entraram";

d) "Os vigias não viram os ladrões que entraram".

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.