A leitora Letícia Vizotini de Almeida envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:
"É verdade que as recentes modificações na Ortografia passaram a obrigar o uso do acento agudo na forma verbal amámos (pretérito perfeito) para distingui-la de amamos (presente do indicativo)?"
1) Um leitor indaga se as recentes modificações na Ortografia passaram a obrigar o uso do acento agudo na forma verbal amámos (pretérito perfeito) para distingui-la de amamos (presente do indicativo).
2) Ora, contrariamente ao que muitos pensam, o Acordo Ortográfico de 2008 não veio para simplificar a escrita; seu objetivo maior foi justificar as escritas de Brasil e Portugal, ou, talvez, sistematizá-las, mediante a permissão de emprego de formas distintas usadas em ambos os países.
3) Assim, para acertar a duplicidade de pronúncias dos dois países, criou ele a dupla possibilidade de grafia, mediante a diferenciação, pelo acento agudo, da primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo dos verbos da primeira conjugação (louvámos, adorámos e falámos), formas essas pronunciadas de modo aberto em Portugal, para opor-se à primeira pessoa do plural do presente do indicativo (louvamos, adoramos e falamos).
4) Vale lembrar que, no Brasil, com raras exceções de usuários que tiveram contatos prolongados com Portugal, não se faz distinção de pronúncia entre a primeira pessoa do plural do presente do indicativo e a primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, de modo que ambas são aqui pronunciadas com som fechado.
5) Mas, em termos do que é a situação após o Acordo Ortográfico de 2008, sintetize-se a questão com duas observações: a) O acento ocorre no pretérito perfeito, mas não no presente do indicativo; b) Tal acento é facultativo, e não obrigatório.
6) Com essas premissas, confiram-se, quanto à grafia, os seguintes exemplos, com a indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a) "Será que hoje amamos os inimigos?" (correto); b) "Será que hoje amámos os inimigos?" (errado); c) "Será que, no passado, amamos os inimigos?" (correto); d) "Será que, no passado, amámos os inimigos?" (correto).