O leitor Fernando Pestana envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:
"A expressão a seguir apresenta ou não sujeito: 'Chovia uma triste chuva de resignação'? Poder-se-ia considerar como objeto direto interno a expressão 'uma triste chuva de resignação'? Grato."
1) Um leitor indaga a respeito da estrutura sintática do exemplo: "Chovia uma triste chuva de resignação".
2) Por facilidade didática e de raciocínio, veja-se, por primeiro, o exemplo "Ele viveu": a) Há o sujeito (ele) e o verbo (viveu); b) O verbo não tem complemento, e é bastante em si na estruturação sintática; c) Por isso, ele se chama verbo intransitivo.
3) Considere-se, a seguir, outro exemplo: "Ele viveu uma vida tranquila": a) Há o sujeito (ele), o verbo (viveu) e um complemento sem preposição (uma vida tranquila); b) O verbo, contrariamente a suas características normais, apresenta um complemento; c) Assim, o verbo é, no caso, transitivo direto, e uma vida tranquila é seu objeto direto.
4) Acrescente-se que, como esse objeto direto traz uma ideia de pleonasmo já contida no próprio verbo, costuma-se chamá-lo de objeto direto interno. Outros exemplos ilustram essa ocorrência de verbos normalmente intransitivos, que às vezes se apresentam com objetos diretos internos: a) "Sonhei um sonho..."; b) "Dancei uma dança..."; c) "Ele dormiu o sono dos justos"; d) "Ele viveu uma vida de cão"; e) "... e rir meu riso..."; f) "Morrerás morte vil".
5) Com essas considerações, torne-se ao exemplo da consulta – "Chovia uma triste chuva de resignação": a) Como os demais verbos que indicam fenômenos meteorológicos, chovia é impessoal, de modo que essa é uma oração sem sujeito; b) Chovia é um verbo normalmente intransitivo; c) No caso, porém, ele, excepcionalmente, se apresenta como transitivo direto; d) Seu objeto direto é uma triste chuva de resignação; e) Como a ideia do objeto direto já se acha contida no próprio verbo, então se tem, por força do pleonasmo, um objeto direto interno.