Gramatigalhas

Pronome antes ou depois do verbo?

Pronome antes ou depois do verbo? O professor José Maria da Costa esclarece.

15/8/2012

O leitor Geovane Lopes de Oliveira envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas: 

"Prezados e prezadas, dou os seguintes exemplos: a) 'Nosso pai sempre nos incentivou a ser forte'; b) 'A miséria compele-nos a não ter prurido'. Posso ter uma explicação sobre a colocação do pronome nesses casos?"

1) Um leitor pede explicações sobre a colocação do pronome nos seguintes exemplos: a) "Nosso pai sempre nos incentivou a ser fortes"; b) "A miséria compele-nos a não ter prurido".

2) Comecemos pela observação da realidade de fato do segundo exemplo: "A miséria compele-nos...”. Nele, podem-se extrair os seguintes aspectos: a) Nessa oração, o sujeito é a miséria, o verbo é compele, e o complemento é nos; b) Quando se tem um exemplo nessa ordem, diz-se que ele está na ordem direta (que é a própria ordem do raciocínio lógico).

3) Quanto às regras de colocação do pronome, faz-se o seguinte raciocínio: a) O estudo para a colocação do pronome oblíquo átono centra-se no verbo, que é a base de sustentação sonora para a melhor localização do pronome, que não tem autonomia sonora); b) Se o pronome vem antes do verbo, há a próclise ("Ele se despediu"); c) Se o pronome vem no meio do verbo, há mesóclise ("Ele despedir-se-ia"); d) Se o pronome vem depois do verbo, há ênclise ("Ele despediu-se"); e) Se, como no caso, não há palavra atrativa antes do verbo, pode-se usar o pronome, facultativamente, em próclise ou em ênclise.

4) Vale dizer, na prática: a) "A miséria nos compele a não ter prurido" (correto); b) "A miséria compele-nos a não ter prurido".

5) Vamos, agora, ao primeiro exemplo: "Nosso pai sempre nos incentivou...". Nele se podem ver os seguintes aspectos: a) O sujeito é nosso pai, o verbo é incentivou, e o complemento é nos; b) O exemplo não está na ordem direta; c) Existe, antes do verbo, uma daquelas palavras atrativas; d) Especificando melhor, as palavras atrativas são as negativas (não, nunca, nada, ninguém, jamais, nem), os advérbios (sempre, frequentemente, ontem, amanhã), os pronomes relativos (que, o qual, cujo), os pronomes indefinidos (tudo, alguém) e as conjunções subordinativas (se, quando, conforme, como).

6) Ora, se existe uma palavra atrativa antes do verbo, é obrigatória a próclise.

7) Em conclusão prática para o primeiro exemplo: a) "Nosso pai sempre nos incentivou..." (correto); b) "Nosso pai sempre incentivou-nos..." (errado).

8) Resumindo as possibilidades para o caso da consulta: a) "A miséria nos compele a não ter prurido" (correto); b) "A miséria compele-nos a não ter prurido" (correto); c) "Nosso pai sempre nos incentivou..." (correto); d) "Nosso pai sempre incentivou-nos..." (errado).

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.