Gramatigalhas

Bem vindo, bem-vindo ou benvindo?

Bem vindo, bem-vindo ou benvindo? O Professor esclarece a dúvida.

20/3/2013

A leitora Carolyn Hoppenstedt Ruzzi envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas

"Com a nova ortografia qual é a grafia certa? Bem-vindo ou benvindo?"

1) Uma leitora indaga qual a forma correta, quanto ao hífen, após o recente Acordo Ortográfico: Bem vindo, bem-vindo ou benvindo?

2) Nunca é demais reforçar, como introdução, que a maioria dos gramáticos estavam acordes em que o emprego do hífen era assunto que carecia de um sério e profundo trabalho de sistematização e simplificação. Longe de melhorar a situação, todavia, o que o recente Acordo Ortográfico fez, longe de atender às expectativas, foi complicar ainda mais o que já era difícil.

3) Mas tentemos solucionar a questão trazida pelo atento leitor, usando as ferramentas de que dispomos.

4) Pelo Acordo Ortográfico, usa-se o hífen com a palavra bem, quando o segundo elemento da palavra composta começar por vogal ou h. Exs.: bem-apanhado, bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado.

5) Não se apresse o leitor. Apesar da conclusão que pretenda extrair em sequência, vai-se logo observando como continua o Acordo: o advérbio "bem" pode ou não aglutinar-se ao segundo elemento, quando o segundo elemento da palavra composta começa por consoante: Exs.: por um lado, bem-casado, bem-comportado, bem-criado, bem-disposto, bem-dotado, bem-falante, bem-mandado, bem-nascido, bem-sucedido, bem-vestido; por outro lado, benfazejo, benfeitor, benquerença.

6) Só pelo teor do Acordo – o qual, sem estabelecer critérios seguros, afirma, de modo fluido e inconsistente, que o advérbio "bem" pode ou não aglutinar-se ao segundo elemento – já se vê a total impossibilidade de fixar uma regra que solucione os problemas do hífen em hipóteses como a da consulta.

7) Num caso como esse – em que se constata a ausência total de critérios mínimos para um raciocínio de convicção e certeza – a única saída é consultar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é uma espécie de dicionário que lista as palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes à língua portuguesa, bem como lhes fornece a grafia oficial.

8) Também conhecido pela sigla VOLP, é organizado e publicado pela Academia Brasileira de Letras, a qual tem a delegação e a responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à Lei Eduardo Ramos, de n. 726, de 8/12/1900.

9) Pois bem. Em sua quinta edição, de 2009, a primeira após o Acordo Ortográfico, o VOLP faz constar bem-vindo1, forma essa que já era assim trazida, em 2004, pela quarta edição.2

10) Apenas para ilustração histórica e verificação de como também pode mudar a grafia oficial dos vocábulos no idioma, anota-se que, na segunda edição do VOLP, de 1998, hoje superada, permitiam-se as duas formas, bem-vindo e benvindo.3

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1 Cf. Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 5. ed., 2009. São Paulo: Global. p. 113.

2 Cf. Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 4. ed., 2004. Rio de Janeiro: Imprinta, p. 106.

3 Cf. Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 2. ed., 1998. Rio de Janeiro: A Academia, p. 101.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.