Gramatigalhas

Crase (de novo!?)

Crase (de novo!?) O professor José Maria da Costa esclarece.

24/3/2010

 

O leitor Cesar Costa de Oliveira envia-nos a seguinte mensagem :

"Migalhas já publicou que não se utiliza crase antes de pronome de tratamento. No entanto, tenho dúvida quanto à utilização da crase no contexto 'venho a presença de Vossa Excelência'. O 'a presença de Vossa Excelência' permite a crase ou não, já que o artigo antecede também o pronome de tratamento?"

1) Partindo do princípio de que não se usa crase antes de pronome de tratamento, um leitor indaga se ela existe ou não no seguinte exemplo: "Venho a presença de Vossa Excelência".

2) Ora, em termos técnicos, crase é a fusão de duas vogais idênticas, e as regras que se fixam têm em mira a própria existência da preposição de um lado e (no caso mais comum) do artigo de outro.

3) Para tal raciocínio, porém, nunca se pode perder de vista que qualquer raciocínio, nesse campo, só deve levar em conta a palavra que vem imediatamente após, e não outra que venha na sequência.

4) No caso da indagação, a palavra que vem imediatamente após o a é o vocábulo presença, e não o pronome de tratamento Vossa Excelência.

5) Isso quer dizer que o que se deve perguntar não é se existe crase antes do pronome de tratamento, mas se, no caso, ela existe antes da palavra presença.

6) Resolvida essa questão preliminar, relembra-se que, quando se quer saber se há crase antes de um substantivo comum do feminino, deve-se substituí-lo mentalmente por um masculino: se aparecer ao ou aos no masculino, então haverá crase no feminino.

7) Tendo em conta o exemplo da consulta, vê-se que, quando se diz "Venho a presença...", tem-se, como um exemplo do masculino, "Venho ao local..."

8) E assim, sem maiores dificuldades, só se pode concluir que o correto é: "Venho à presença de Vossa Excelência".

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.