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A revolução silenciosa da cibersegurança: Ética, saúde e cooperação no mundo digital

O evento destacou a cibersegurança como uma questão ética vital, abordando proteção de dados médicos, financeiros e a necessidade de cooperação global.

13/9/2024

Vivemos em uma era onde o invisível ameaça o tangível. Os avanços tecnológicos, que aceleram a vida moderna, trazem consigo a urgência de se proteger o mais precioso bem da sociedade digital: a informação. Recentemente, na reunião ordinária da Digital Law Academy em parceria com a Deloitte, da IBM por meio da comunidade IBM Power Brasil e ADESG-SP, especialistas em cibersegurança reuniram-se para debater o impacto dessas mudanças na segurança de dados médicos, no setor bancário e na cooperação internacional. Mais de 60 profissionais presenciais e muitos outros conectados online participaram ativamente dessas discussões que transcendem o âmbito técnico, atingindo profundezas éticas e filosóficas.

 A cibersegurança, hoje, é o escudo que protege o âmago da confiança pública. Nas palavras de Michele Cordeiro, CEO da CCELL Health Tech, a questão vai além de proteger bytes e dados: “Estamos defendendo vidas”. O debate sobre segurança cibernética em dados médicos revelou o quanto a digitalização da saúde, ao mesmo tempo que revoluciona o atendimento médico, também expõe pacientes e instituições a ataques que podem comprometer diagnósticos, tratamentos e até mesmo vidas. Proteger a saúde digital da sociedade é um imperativo ético que requer uma visão holística, de que a tecnologia, ao passo que salva, também deve ser cuidada como um paciente em si.

 No setor financeiro, Renato Augusto, gerente de cibersegurança no Bradesco, trouxe uma visão pragmática dos desafios enfrentados pelo setor bancário. O dinheiro, um símbolo tangível da confiança pública, agora reside em servidores invisíveis, onde senhas, criptografias e firewalls formam as barreiras entre a segurança e o caos. Sua palestra sobre Segurança Cibernética no setor bancário foi um alerta: a proteção do patrimônio digital é também a proteção da estabilidade social. A cada dia, os cibercriminosos se tornam mais sofisticados, e a resposta precisa ser igualmente robusta e ágil, uma verdadeira corrida contra o tempo onde a inércia pode custar caro.

 Daniel Tupinambá, Partner da Deloitte, ao abordar o "Panorama Cibernético Global e Cooperação Ética", trouxe uma perspectiva alarmante: em 2023, os crimes cibernéticos ultrapassaram a marca de três trilhões e meio de dólares em perdas econômicas globais. Esse número astronômico reflete a magnitude do problema que estamos enfrentando. Ele destacou que, diante dessa realidade, as empresas precisam urgentemente aumentar seus investimentos em cibersegurança, não apenas como uma medida preventiva, mas como uma estratégia essencial de sobrevivência no ambiente digital. "A segurança digital não pode ser tratada como um custo adicional. Ela é uma questão de continuidade do negócio", reforçou Tupinambá, apontando que as empresas ainda subestimam o impacto que uma falha cibernética pode ter em sua reputação e sustentabilidade financeira.

 Ainda sobre o impacto da tecnologia na vida das pessoas, Coriolano Camargo trouxe à discussão uma inovação que promete revolucionar o campo da medicina: o "Open Health", um sistema que permitirá a troca anonimizada de dados entre hospitais, médicos e clínicas, focado na correção de diagnósticos equivocados. Ele explicou que o compartilhamento de dados estatísticos, respeitando a privacidade dos pacientes, pode evitar erros de diagnóstico que, muitas vezes, resultam em tratamentos ineficazes e desnecessários. “Hoje, muitos pacientes que apresentam sintomas cardíacos estão, na verdade, sofrendo de problemas neurológicos no sistema autônomo do cérebro, que não comanda adequadamente os batimentos cardíacos. Isso significa que estão sendo tratados por cardiologistas quando deveriam estar sob os cuidados de neurologistas, e vice-versa", destacou Camargo. Com o Open Health, esses padrões podem ser detectados e corrigidos de maneira mais rápida e eficaz, proporcionando uma medicina mais precisa e personalizada.

 O evento mostrou que a cibersegurança não é apenas uma questão técnica, mas uma responsabilidade ética, social e filosófica. Proteger a informação é, em última instância, proteger as bases de nossa civilização digital. A revolução da cibersegurança é silenciosa, mas seu impacto é ensurdecedor, ecoando nos cantos mais profundos de nossa sociedade conectada.

 Agradecimentos especiais foram feitos a Thiago Sobral, cujo apoio técnico-científico através da comunidade IBM Power Brasil foi fundamental para a organização e sucesso do evento. A IBM, junto à Deloitte, forneceu a base para essas discussões, promovendo o intercâmbio de ideias entre os mais brilhantes profissionais do setor.

 No fim, estamos diante de um cenário onde a tecnologia molda a medicina, as finanças e a segurança, e a colaboração internacional se torna não apenas uma escolha, mas uma necessidade. Esse evento mostrou que a transformação digital não pode ocorrer sem o fortalecimento da ética e da segurança em cada passo do caminho.

 Conclusão 

 A jornada pela cibersegurança, como foi debatida no evento, nos convida a refletir sobre quatro verbos que moldam a essência de qualquer transformação duradoura: querer, ousar, agir e calar. "Querer" é o primeiro passo — a vontade firme e consciente de projetar resultados positivos no mundo digital e real. Sem o desejo genuíno de proteger e melhorar, permanecemos imóveis. 

 No entanto, só querer não é suficiente. É preciso "ousar". Ousadia é a força que desafia o status quo e empurra as barreiras da inovação. Somente aqueles que ousam são capazes de romper as fronteiras do medo e da inércia, transformando o que parece impossível em uma nova realidade. 

 Depois de querer e ousar, vem o momento mais crucial: "agir". Ação requer coragem, porque mudar o presente é um ato que desafia tanto as resistências internas quanto as externas. Agir com coragem significa enfrentar os riscos, aceitar as falhas como parte do processo e mover-se com determinação em direção ao objetivo maior.

 Mas há momentos em que a sabedoria nos pede "calar". Projetos sensíveis e transformadores muitas vezes precisam do silêncio para germinar e crescer longe dos olhares curiosos. Saber calar é um ato de prudência, é permitir que as ideias cresçam no tempo certo, sem a interferência de forças externas que podem desviá-las de seu curso.

 Por fim, é necessário "saber" — não apenas acumular conhecimento, mas alcançar a sabedoria. O saber transcende dados e informações; é o discernimento de quando falar, quando agir e quando calar. É a percepção de que, para construir um futuro mais seguro e ético, precisamos equilibrar a ousadia com a prudência, o desejo de mudança com a paciência da ação calculada.

 Neste cenário digital, onde o invisível se entrelaça com o real, a conjugação desses verbos é o que nos permitirá navegar de forma sábia e consciente rumo a um futuro mais seguro e transformador.

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Colunistas

Coriolano Aurélio de Almeida Camargo Santos é advogado e Presidente da Digital Law Academy. Ph.D., ocupa o cargo de Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção São Paulo (OAB/SP), com mandatos entre 2013-2018 e 2022-2024. É membro da Comissão Nacional de Inteligência Artificial do Conselho Federal da OAB. Foi convidado pela Mesa do Congresso Nacional para criar e coordenar a comissão de Juristas que promoveu a audiência pública sobre a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, realizada em 24 de maio de 2019. Possui destacada carreira acadêmica, tendo atuado como professor convidado da Università Sapienza (Roma), IPBEJA (Portugal), Granada, Navarra e Universidade Complutense de Madrid (Espanha). Foi convidado pelo Supremo Tribunal Federal em duas ocasiões para discutir temas ligados ao Direito e à Tecnologia. Também atua como professor e coordenador do programa de Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) da Escola Superior de Advocacia Nacional do Conselho Federal é o órgão máximo na estrutura da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB). Foi fundador e presidente da Comissão de Direito Digital e Compliance da OAB/SP (2005-2018). Atuou como Juiz do Tribunal de Impostos e Taxas de São Paulo (2005-2021) e fundou a Comissão do Contencioso Administrativo Tributário da OAB/SP em 2014. Na área de arbitragem, é membro da Câmara Empresarial de Arbitragem da FECOMERCIO, OAB/SP e da Câmara Arbitral Internacional de Paris. Foi membro do Conselho Jurídico da FIESP (2011-2020) e diretor do Departamento Jurídico da mesma entidade (2015-2022). Atualmente desempenha o papel de Diretor Jurídico do DEJUR do CIESP. Foi coordenador do Grupo de Estudos de Direito Digital da FIESP (2015/2020). Foi convidado e atuou como pesquisador junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2010, para tratar da segurança física e digital de processos findos. Além disso, ocupou o cargo de Diretor Titular do Centro do Comércio da FECOMERCIO (2011-2017) e foi conselheiro do Conselho de Tecnologia da Informação e Comunicação da FECOMERCIO (2006-2010). Desde 2007, é membro do Conselho Superior de Direito da FecomercioSP. Atua como professor de pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie desde 2007, nos cursos de Direito e Tecnologia, tendo lecionado no curso de Direito Digital da Fundação Getúlio Vargas, IMPACTA Tecnologia e no MBA em Direito Eletrônico da EPD. Ainda coordenou e fundou o Programa de Pós-Graduação em Direito Digital e Compliance do Ibmec/Damásio. É Mestre em Direito na Sociedade da Informação pela FMU (2007) e Doutor em Direito pela FADISP (2014). Lecionou na Escola de Magistrados da Justiça Federal da 3ª Região, Academia Nacional de Polícia Federal, Governo do Estado de São Paulo e Congresso Nacional, em eventos em parceria com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, INTERPOL e Conselho da Europa. Como parte de sua atuação internacional, é membro da International High Technology Crime Investigation Association (HTCIA) e integrou o Conselho Científico de Conferências de âmbito mundial (ICCyber), com o apoio e suporte da Diretoria Técnico-Científica do Departamento de Polícia Federal, Federal Bureau of Investigation (FBI/USA), Australian Federal Police (AFP) e Guarda Civil da Espanha. Além disso, foi professor convidado em instituições e empresas de grande porte, como Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), Banco Santander e Microsoft, bem como palestrou em eventos como Fenalaw/FGV.GRC-Meeting, entre outros. Foi professor colaborador da AMCHAM e SUCESU. Em sua atuação junto ao Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), apresentou uma coletânea de pareceres colaborativos à ação governamental, alcançando resultados significativos com a publicação de Convênios e Atos COTEPE voltados para a segurança e integração nacional do sistema tributário e tecnológico. Também é autor do primeiro Internet-Book da OAB/SP, que aborda temas de tributação, direito eletrônico e sociedade da informação, e é colunista em Direito Digital, Inovação e Proteção de Dados do Portal Migalhas, entre outros. Em sua atuação prática, destaca-se nas áreas do Direito Digital, Inovação, Proteção de Dados, Tributário e Empresarial, com experiência jurídica desde 1988.

Leila Chevtchuk, eleita por aclamação pelos ministros do TST integrou o Conselho Consultivo da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho – ENAMAT. Em 2019 realizou visita técnico científica a INTERPOL em Lyon na França e EUROPOL em 2020 em Haia na Holanda. Desembargadora, desde 2010, foi Diretora da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª região. Pela USP é especialista em transtornos mentais relacionados ao trabalho e em psicologia da saúde ocupacional. Formada em Direito pela USP. Pós-graduada pela Universidade de Lisboa, na área de Direito do Trabalho. Mestre em Relações do Trabalho pela PUC e doutorado na Universidade Autôno de Lisboa.