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Manipulação de dados das atas eleitorais na Venezuela: Uma análise à luz do Direito Digital e da forense computacional

A situação atual na Venezuela é marcada por um profundo clima de polarização e crise política.

9/8/2024

Introdução 

Fraudes Eleitorais na Venezuela: Manipulações e a Busca por Soluções Diplomáticas 

A situação atual na Venezuela é marcada por um profundo clima de polarização e crise política. Desde a ascensão do regime chavista, liderado inicialmente por Hugo Chávez e posteriormente por Nicolás Maduro, o país tem enfrentado uma série de desafios que incluem repressão política, violações de direitos humanos e um colapso econômico. Este contexto histórico criou um ambiente onde as eleições são frequentemente contestadas e os resultados, objeto de desconfiança tanto interna quanto internacional. 

Recentemente, a demora na apresentação das atas eleitorais tem levantado suspeitas de que o regime de Maduro está manipulando os resultados para favorecer seu candidato, Nicolás Maduro, em detrimento do candidato da oposição, Edmundo Gonçales. Líderes regionais, como o presidente brasileiro Lula, Gustavo Petro da Colômbia e Andrés Manuel López Obrador do México, têm sido criticados por suas posturas, que alguns consideram coniventes com a estratégia do regime chavista de criar uma falsa equivalência entre as partes envolvidas.  

Desde 2015, quando a última eleição justa ocorreu na Venezuela, o regime tem consolidado seu controle sobre todas as esferas do poder, incluindo o Judiciário, anulando sistematicamente qualquer tentativa de oposição de influenciar a governança do país. A comunidade internacional, especialmente a União Europeia, tem expressado ceticismo quanto à legitimidade dos processos eleitorais venezuelanos, devido às evidências de fraudes e manipulações. 

Neste cenário, o Brasil tem optado por uma linha diplomática em sua abordagem, buscando evitar um agravamento da crise humanitária que assola o povo venezuelano, enquanto tenta mediar uma solução pacífica e negociada para restaurar a democracia no país. 

Manipulação de Dados das Atas Eleitorais na Venezuela: Uma Análise à Luz do Direito Digital e da Forense Computacional 

A manipulação de resultados eleitorais constitui um grave atentado à democracia e à integridade dos processos eleitorais. No contexto venezuelano, a fraude das atas de eleições envolve um conjunto de técnicas sofisticadas, muitas das quais podem ser analisadas e compreendidas através da forense computacional. Este texto técnico visa delinear as principais formas de fraude eleitoral, com foco nas manipulações das atas de votação, e os métodos de detecção utilizados na forense computacional. 

 1. Manipulação de Resultados Eletrônicos 

a. Alteração Digital dos Dados

Uma das técnicas mais comuns é a alteração digital dos resultados antes de serem oficialmente divulgados. Isso pode ocorrer através de acesso não autorizado aos sistemas de gerenciamento de votos, onde os dados são manipulados para refletir um resultado favorável ao regime. Este tipo de fraude pode ser detectado através da análise forense dos logs de acesso ao sistema, verificando a integridade dos dados armazenados e transmitidos. 

 b. Interceptação e Modificação de Dados em Trânsito 

A interceptação de dados durante a transmissão dos resultados eleitorais também é uma técnica utilizada para fraudar as atas de eleição. Utilizando ataques de intermediário (man-in-the-middle), os fraudadores podem modificar os dados enquanto estes são transmitidos dos centros de votação para o centro de apuração. A análise forense envolve a inspeção detalhada dos pacotes de dados transmitidos, buscando inconsistências ou sinais de manipulação. 

 2. Produção e Substituição de Atas Falsas 

a. Criação de Documentos Falsificados 

A produção de atas de votação falsificadas é uma técnica manual, mas que pode ser facilitada por ferramentas computacionais para gerar documentos que imitam os originais. Para detectar essa fraude, a forense computacional pode empregar técnicas de análise de metadata dos documentos digitais, buscando discrepâncias nos registros de criação e modificação dos arquivos. 

 b. Substituição de Atas Originais 

Outra técnica envolve a substituição das atas originais por versões falsificadas. Isso pode ocorrer em diferentes pontos da cadeia de custódia dos documentos, desde os locais de votação até os centros de apuração. A análise forense pode incluir a verificação de assinaturas digitais e a comparação de versões dos documentos armazenados em diferentes locais ou sistemas. 

3. Desaparecimento de Atas 

 a. Eliminação Física ou Digital 

O desaparecimento de atas originais pode ser realizado através da destruição física dos documentos ou da eliminação de arquivos digitais. Técnicas forenses incluem a recuperação de dados deletados e a análise de registros de backup para identificar a presença e a subsequente eliminação de arquivos. 

4. Intimidação e Coerção de Funcionários Eleitorais 

a. Ameaças e Coação 

A intimidação de funcionários eleitorais para que alterem os resultados ou assinem atas falsificadas é uma prática que pode ser evidenciada através de testemunhos, registros de comunicação e análise de padrões de comportamento anômalos nos sistemas de votação. A forense computacional pode auxiliar na identificação de alterações feitas sob coação, através da análise de logs de atividade e de mudanças nos dados próximos aos momentos de suposta intimidação. 

 5. Controle e Manipulação dos Órgãos Eleitorais 

 a. Manipulação Institucional 

O controle do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) pode ser exercido para garantir que os resultados favoráveis ao regime sejam certificados e os desfavoráveis sejam descartados ou alterados. A análise forense pode incluir a inspeção de comunicações internas, decisões administrativas e processos de certificação dos resultados para identificar manipulações institucionais. 

 6. Restrição à Observação Internacional 

a. Limitação de Acesso 

Impedir a presença de observadores internacionais independentes dificulta a verificação dos resultados eleitorais. Técnicas forenses podem ser aplicadas para analisar a documentação e as comunicações relacionadas às credenciais e ao acesso dos observadores, identificando padrões de obstrução deliberada. 

Em síntese 

A fraude das atas de eleições na Venezuela envolve um conjunto complexo de técnicas que variam desde a manipulação digital dos dados até a intimidação de funcionários eleitorais. A aplicação de métodos de forense computacional é essencial para detectar, analisar e documentar essas fraudes, proporcionando evidências técnicas que podem ser utilizadas em processos judiciais e investigações internacionais. A integridade dos processos eleitorais depende da capacidade de identificar e mitigar essas ameaças, assegurando que a vontade do eleitorado seja respeitada. 

A Posição da União Europeia 

A União Europeia não reconhece o resultado das eleições na Venezuela por diversos motivos, todos relacionados à falta de transparência e à integridade do processo eleitoral. Primeiramente, há uma forte presença de irregularidades e fraudes que comprometem a legitimidade dos resultados. Observadores internacionais e relatórios independentes têm apontado para a manipulação dos resultados, a coerção de eleitores e a intimidação de candidatos da oposição. 

Além disso, o controle exercido pelo regime de Nicolás Maduro sobre o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) mina a credibilidade das eleições. O CNE é amplamente percebido como uma extensão do governo, o que levanta sérias dúvidas sobre sua imparcialidade e a precisão dos resultados eleitorais apresentados. A ausência de observadores internacionais independentes, impedidos de monitorar adequadamente o processo, reforça ainda mais essas preocupações. 

A União Europeia também considera o contexto mais amplo de repressão política e violação dos direitos humanos na Venezuela. O regime tem sido acusado de perseguir e prender opositores políticos, silenciar a imprensa livre e restringir as liberdades civis, criando um ambiente onde eleições livres e justas são praticamente impossíveis. 

Esses fatores combinados levam a União Europeia a concluir que as eleições na Venezuela não cumprem os padrões internacionais de transparência, liberdade e justiça. Em resposta, a UE opta por não reconhecer os resultados, em solidariedade ao povo venezuelano e na defesa dos princípios democráticos. 

Conclusão 

Em conclusão, o Brasil tem optado por uma linha diplomática em sua abordagem à crise eleitoral na Venezuela, buscando evitar ainda maior sofrimento ao povo venezuelano. Este povo vive em um clima de forte polarização e sob um regime chavista que é amplamente considerado perseguidor e totalitário. Ao adotar uma postura diplomática, o Brasil espera contribuir para uma solução pacífica e negociada, que possa levar à restauração da democracia e ao alívio das adversidades enfrentadas pela população venezuelana.  

*Texto escrito com apoio da computação cognitiva. 

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Colunistas

Coriolano Aurélio de Almeida Camargo Santos é advogado e Presidente da Digital Law Academy. Ph.D., ocupa o cargo de Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção São Paulo (OAB/SP), com mandatos entre 2013-2018 e 2022-2024. É membro da Comissão Nacional de Inteligência Artificial do Conselho Federal da OAB. Foi convidado pela Mesa do Congresso Nacional para criar e coordenar a comissão de Juristas que promoveu a audiência pública sobre a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, realizada em 24 de maio de 2019. Possui destacada carreira acadêmica, tendo atuado como professor convidado da Università Sapienza (Roma), IPBEJA (Portugal), Granada, Navarra e Universidade Complutense de Madrid (Espanha). Foi convidado pelo Supremo Tribunal Federal em duas ocasiões para discutir temas ligados ao Direito e à Tecnologia. Também atua como professor e coordenador do programa de Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) da Escola Superior de Advocacia Nacional do Conselho Federal é o órgão máximo na estrutura da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB). Foi fundador e presidente da Comissão de Direito Digital e Compliance da OAB/SP (2005-2018). Atuou como Juiz do Tribunal de Impostos e Taxas de São Paulo (2005-2021) e fundou a Comissão do Contencioso Administrativo Tributário da OAB/SP em 2014. Na área de arbitragem, é membro da Câmara Empresarial de Arbitragem da FECOMERCIO, OAB/SP e da Câmara Arbitral Internacional de Paris. Foi membro do Conselho Jurídico da FIESP (2011-2020) e diretor do Departamento Jurídico da mesma entidade (2015-2022). Atualmente desempenha o papel de Diretor Jurídico do DEJUR do CIESP. Foi coordenador do Grupo de Estudos de Direito Digital da FIESP (2015/2020). Foi convidado e atuou como pesquisador junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2010, para tratar da segurança física e digital de processos findos. Além disso, ocupou o cargo de Diretor Titular do Centro do Comércio da FECOMERCIO (2011-2017) e foi conselheiro do Conselho de Tecnologia da Informação e Comunicação da FECOMERCIO (2006-2010). Desde 2007, é membro do Conselho Superior de Direito da FecomercioSP. Atua como professor de pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie desde 2007, nos cursos de Direito e Tecnologia, tendo lecionado no curso de Direito Digital da Fundação Getúlio Vargas, IMPACTA Tecnologia e no MBA em Direito Eletrônico da EPD. Ainda coordenou e fundou o Programa de Pós-Graduação em Direito Digital e Compliance do Ibmec/Damásio. É Mestre em Direito na Sociedade da Informação pela FMU (2007) e Doutor em Direito pela FADISP (2014). Lecionou na Escola de Magistrados da Justiça Federal da 3ª Região, Academia Nacional de Polícia Federal, Governo do Estado de São Paulo e Congresso Nacional, em eventos em parceria com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, INTERPOL e Conselho da Europa. Como parte de sua atuação internacional, é membro da International High Technology Crime Investigation Association (HTCIA) e integrou o Conselho Científico de Conferências de âmbito mundial (ICCyber), com o apoio e suporte da Diretoria Técnico-Científica do Departamento de Polícia Federal, Federal Bureau of Investigation (FBI/USA), Australian Federal Police (AFP) e Guarda Civil da Espanha. Além disso, foi professor convidado em instituições e empresas de grande porte, como Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), Banco Santander e Microsoft, bem como palestrou em eventos como Fenalaw/FGV.GRC-Meeting, entre outros. Foi professor colaborador da AMCHAM e SUCESU. Em sua atuação junto ao Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), apresentou uma coletânea de pareceres colaborativos à ação governamental, alcançando resultados significativos com a publicação de Convênios e Atos COTEPE voltados para a segurança e integração nacional do sistema tributário e tecnológico. Também é autor do primeiro Internet-Book da OAB/SP, que aborda temas de tributação, direito eletrônico e sociedade da informação, e é colunista em Direito Digital, Inovação e Proteção de Dados do Portal Migalhas, entre outros. Em sua atuação prática, destaca-se nas áreas do Direito Digital, Inovação, Proteção de Dados, Tributário e Empresarial, com experiência jurídica desde 1988.

Leila Chevtchuk, eleita por aclamação pelos ministros do TST integrou o Conselho Consultivo da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho – ENAMAT. Em 2019 realizou visita técnico científica a INTERPOL em Lyon na França e EUROPOL em 2020 em Haia na Holanda. Desembargadora, desde 2010, foi Diretora da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª região. Pela USP é especialista em transtornos mentais relacionados ao trabalho e em psicologia da saúde ocupacional. Formada em Direito pela USP. Pós-graduada pela Universidade de Lisboa, na área de Direito do Trabalho. Mestre em Relações do Trabalho pela PUC e doutorado na Universidade Autôno de Lisboa.