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Engajamento pelo ódio: A aversão como motor da política partidária no Brasil

O texto destaca a ideia central de como a aversão aos adversários se tornou um fator dominante na dinâmica política brasileira, conforme pesquisas.

14/6/2024

Este breve texto destaca a ideia central de como a aversão aos adversários se tornou um fator dominante na dinâmica política brasileira, conforme pesquisas. 

Introdução

Em tempos de rápida disseminação de informação digital, a capacidade de governos para influenciar a opinião pública por meio de desinformação tem se tornado um tema de crescente preocupação. A manipulação de dados e fatos não é uma prática nova, mas a magnitude e a eficácia com que a desinformação pode ser propagada foram amplificadas pelo uso estratégico da máquina governamental. Esta prática, observada tanto em governos anteriores quanto no atual, utiliza-se de canais oficiais e de comunicação digital para disseminar informações enganosas, muitas vezes visando a manipulação da percepção pública e o fortalecimento de narrativas políticas específicas.

A desinformação pode ser definida como a distribuição deliberada de informações falsas ou enganosas com o propósito de influenciar a opinião pública e desestabilizar o diálogo democrático (Wardle e Derakhshan, 2017). Segundo Lazer et al. (2018), a propagação de notícias falsas se dá com maior rapidez e amplitude que a disseminação de informações verdadeiras, especialmente em redes sociais. Esta dinâmica cria um ambiente onde a verdade compete de forma desigual com a mentira, o que é exacerbado quando o governo utiliza sua infraestrutura e recursos para promover desinformação.

Durante o governo anterior, observou-se o uso de estratégias coordenadas para divulgar informações errôneas sobre temas sensíveis, desde questões econômicas até crises de saúde pública. Já o governo atual, embora em um contexto diferente, continua a empregar táticas semelhantes, utilizando a máquina governamental para propagar narrativas que beneficiam seus interesses políticos. Essa continuidade revela não apenas uma instrumentalização da comunicação oficial, mas também uma perigosa erosão da confiança pública nas instituições governamentais.

Este artigo explora como a máquina governamental tem sido empregada para disseminar desinformação em diferentes governos, analisando os métodos e os impactos dessa prática. Por meio de uma comparação detalhada entre as abordagens do governo anterior e do atual, busca-se entender as implicações dessas estratégias para a sociedade e para o funcionamento da democracia. 

A política da aversão

Em um cenário político cada vez mais polarizado, a intolerância emergiu como um fator preponderante na dinâmica partidária brasileira. Pesquisas recentes indicam que o ódio aos adversários se tornou um dos principais motivadores para a adesão e o engajamento político.

Segundo um estudo realizado por cientistas políticos da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e da Universidade de São Paulo (USP), aproximadamente 70% dos filiados a partidos políticos no Brasil apontam a aversão aos oponentes como uma razão significativa para sua filiação. Publicado pelo "Estadão", esse levantamento revela uma tendência preocupante: o "engajamento pelo ódio" supera motivações tradicionais, como a influência sobre decisões partidárias internas, ficando atrás apenas do objetivo de alcançar vitórias eleitorais.

Os pesquisadores notaram que, para 36% dos entrevistados, a hostilidade em relação a outras legendas aumenta significativamente sua participação nas atividades partidárias, evidenciando uma transformação da política em uma arena de combate simbólico. Essa atitude se manifesta em um cenário onde a política, em vez de promover a conciliação de interesses diversos, é tratada como uma batalha existencial.

A constante estimulação de um sentimento de ódio e rejeição não apenas fragmenta a sociedade, mas também ameaça a própria essência da democracia representativa. A política, que deveria ser um espaço de diálogo e negociação, está se convertendo em uma guerra tribal, onde adversários são vistos como inimigos a serem eliminados. Esse clima de beligerância não favorece a convivência democrática, mas sim o declínio das instituições políticas e da capacidade de governança coletiva. 

Desinformação e manipulação nas redes sociais: Um problema bipartidário

O uso das redes sociais como ferramenta para a disseminação de desinformação e manipulação política não é exclusividade de um único espectro ideológico. Tanto à direita quanto à esquerda, há práticas que promovem a desinformação para influenciar a opinião pública e direcionar pautas favoráveis a seus interesses.

Recentemente, reportagens têm destacado que o governo atual utiliza uma estrutura semelhante ao “gabinete do ódio” da administração anterior, agora com uma orientação ideológica diferente, para direcionar o debate nas redes sociais. Segundo um artigo do "Estadão", o Planalto tem operado com uma versão petista desse gabinete para pautar as redes, gerando críticas por replicar táticas de manipulação da informação que foram amplamente criticadas anteriormente.

Este ambiente de desinformação é problemático, independentemente do partido político envolvido. Tanto defensores da direita quanto da esquerda criticam essas práticas, reconhecendo que elas corroem o diálogo democrático e fomentam um ambiente polarizado e de baixa confiança pública. 

A erosão da democracia provocada pela desinformação: Exemplos ao redor do globo

A disseminação de desinformação tem sido um problema global que corrói a democracia, o diálogo e até a saúde mental das pessoas. Esta questão não se limita ao Brasil; exemplos em várias partes do mundo mostram como essa prática prejudica o tecido social e o funcionamento democrático.

Nos Estados Unidos, a desinformação ganhou destaque durante as eleições presidenciais de 2016 e 2020. Grupos de desinformação, muitas vezes com influência estrangeira, espalharam teorias da conspiração e notícias falsas, criando uma desconfiança generalizada no processo eleitoral. A culminação dessa desinformação foi vista na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, onde a polarização e a falta de confiança no resultado eleitoral levaram a violência e caos.

No Reino Unido, o referendo do Brexit em 2016 foi fortemente influenciado por desinformação. Campanhas enganosas sobre as consequências de permanecer ou sair da União Europeia dividiram a sociedade britânica. Essa divisão ainda persiste, afetando a coesão social e a confiança nas instituições públicas, e dificultando o diálogo e a tomada de decisões informadas.

Na Índia, a desinformação através de plataformas como o WhatsApp tem levado a sérias consequências, incluindo linchamentos e tensões comunitárias. Mensagens falsas sobre minorias e rumores de violência se espalham rapidamente, alimentando o medo e o ódio. Essa desinformação não só agrava conflitos sociais, mas também interfere nas eleições e manipula a opinião pública para atender a interesses políticos específicos.

Nas Filipinas, a administração de Rodrigo Duterte tem usado redes sociais para espalhar desinformação e controlar a narrativa política. O governo é acusado de usar exércitos de trolls para intimidar críticos e distorcer a realidade, resultando em um ambiente de repressão contra jornalistas e ativistas dos direitos humanos.

A desinformação não apenas enfraquece a democracia ao minar a confiança nas instituições, mas também cria um ambiente polarizado, onde o diálogo racional é substituído por confrontos e desconfiança. Esse clima afeta a saúde mental, gerando ansiedade e paranoia entre a população, exacerbando a polarização e dificultando a coesão social.

Esses exemplos ilustram como a desinformação é um problema universal que demanda atenção e ação coordenada para proteger a integridade democrática e o bem-estar social. 

Quando estamos nos expressando rapidamente o espaço do debate é substituído pelo tribunal da intolerância, a voz da razão se cala, temerosa de ser condenada por pensar diferente. 

Esse prisma reflete a dificuldade de expressar opiniões em um ambiente polarizado, onde a discordância é frequentemente rotulada e atacada, inibindo o diálogo construtivo. 

No curso do debate não é possível, ao menos, admitir que há indivíduos de boa-fé que veem o mundo de maneira distinta? Reconhecer que se trata de uma questão polêmica, merecedora de debate robusto, não é justamente o que define a verdadeira essência da democracia?" 

Essa versão de nós mesmos busca enfatizar o valor do reconhecimento mútuo e do debate como fundamentos da convivência democrática. 

A sociedade floresce na medida em que cultivamos amor e tolerância, onde o diálogo sério e a aceitação genuína das opiniões divergentes se tornam as pedras angulares da cordialidade e diplomacia. 

Referências

- Lazer, D. M. J., Baum, M. A., Benkler, Y., Berinsky, A. J., Greenhill, K. M., Menczer, F., ... & Schudson, M. (2018). The science of fake news. Science, 359(6380), 1094-1096. 

- Wardle, C., & Derakhshan, H. (2017). Information disorder: Toward an interdisciplinary framework for research and policy making. Council of Europe.

- Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e Universidade de São Paulo (USP). (2024). Estudo sobre a motivação do ódio na política. Estadão. Publicado em 1º de junho de 2024.

- "Planalto despacha com versão petista do ‘gabinete do ódio’ para pautar redes." Estadão. Caderno de Política de 10 de junho de 2024.

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Nota: Este conteúdo foi produzido com o auxílio de uma ferramenta de Inteligência Artificial, assegurando precisão e inovação na sua elaboração.

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Colunistas

Coriolano Aurélio de Almeida Camargo Santos é advogado e Presidente da Digital Law Academy. Ph.D., ocupa o cargo de Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção São Paulo (OAB/SP), com mandatos entre 2013-2018 e 2022-2024. É membro da Comissão Nacional de Inteligência Artificial do Conselho Federal da OAB. Foi convidado pela Mesa do Congresso Nacional para criar e coordenar a comissão de Juristas que promoveu a audiência pública sobre a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, realizada em 24 de maio de 2019. Possui destacada carreira acadêmica, tendo atuado como professor convidado da Università Sapienza (Roma), IPBEJA (Portugal), Granada, Navarra e Universidade Complutense de Madrid (Espanha). Foi convidado pelo Supremo Tribunal Federal em duas ocasiões para discutir temas ligados ao Direito e à Tecnologia. Também atua como professor e coordenador do programa de Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) da Escola Superior de Advocacia Nacional do Conselho Federal é o órgão máximo na estrutura da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB). Foi fundador e presidente da Comissão de Direito Digital e Compliance da OAB/SP (2005-2018). Atuou como Juiz do Tribunal de Impostos e Taxas de São Paulo (2005-2021) e fundou a Comissão do Contencioso Administrativo Tributário da OAB/SP em 2014. Na área de arbitragem, é membro da Câmara Empresarial de Arbitragem da FECOMERCIO, OAB/SP e da Câmara Arbitral Internacional de Paris. Foi membro do Conselho Jurídico da FIESP (2011-2020) e diretor do Departamento Jurídico da mesma entidade (2015-2022). Atualmente desempenha o papel de Diretor Jurídico do DEJUR do CIESP. Foi coordenador do Grupo de Estudos de Direito Digital da FIESP (2015/2020). Foi convidado e atuou como pesquisador junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2010, para tratar da segurança física e digital de processos findos. Além disso, ocupou o cargo de Diretor Titular do Centro do Comércio da FECOMERCIO (2011-2017) e foi conselheiro do Conselho de Tecnologia da Informação e Comunicação da FECOMERCIO (2006-2010). Desde 2007, é membro do Conselho Superior de Direito da FecomercioSP. Atua como professor de pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie desde 2007, nos cursos de Direito e Tecnologia, tendo lecionado no curso de Direito Digital da Fundação Getúlio Vargas, IMPACTA Tecnologia e no MBA em Direito Eletrônico da EPD. Ainda coordenou e fundou o Programa de Pós-Graduação em Direito Digital e Compliance do Ibmec/Damásio. É Mestre em Direito na Sociedade da Informação pela FMU (2007) e Doutor em Direito pela FADISP (2014). Lecionou na Escola de Magistrados da Justiça Federal da 3ª Região, Academia Nacional de Polícia Federal, Governo do Estado de São Paulo e Congresso Nacional, em eventos em parceria com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, INTERPOL e Conselho da Europa. Como parte de sua atuação internacional, é membro da International High Technology Crime Investigation Association (HTCIA) e integrou o Conselho Científico de Conferências de âmbito mundial (ICCyber), com o apoio e suporte da Diretoria Técnico-Científica do Departamento de Polícia Federal, Federal Bureau of Investigation (FBI/USA), Australian Federal Police (AFP) e Guarda Civil da Espanha. Além disso, foi professor convidado em instituições e empresas de grande porte, como Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), Banco Santander e Microsoft, bem como palestrou em eventos como Fenalaw/FGV.GRC-Meeting, entre outros. Foi professor colaborador da AMCHAM e SUCESU. Em sua atuação junto ao Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), apresentou uma coletânea de pareceres colaborativos à ação governamental, alcançando resultados significativos com a publicação de Convênios e Atos COTEPE voltados para a segurança e integração nacional do sistema tributário e tecnológico. Também é autor do primeiro Internet-Book da OAB/SP, que aborda temas de tributação, direito eletrônico e sociedade da informação, e é colunista em Direito Digital, Inovação e Proteção de Dados do Portal Migalhas, entre outros. Em sua atuação prática, destaca-se nas áreas do Direito Digital, Inovação, Proteção de Dados, Tributário e Empresarial, com experiência jurídica desde 1988.

Leila Chevtchuk, eleita por aclamação pelos ministros do TST integrou o Conselho Consultivo da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho – ENAMAT. Em 2019 realizou visita técnico científica a INTERPOL em Lyon na França e EUROPOL em 2020 em Haia na Holanda. Desembargadora, desde 2010, foi Diretora da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª região. Pela USP é especialista em transtornos mentais relacionados ao trabalho e em psicologia da saúde ocupacional. Formada em Direito pela USP. Pós-graduada pela Universidade de Lisboa, na área de Direito do Trabalho. Mestre em Relações do Trabalho pela PUC e doutorado na Universidade Autôno de Lisboa.